Nada acontece por acaso e é a nossa reacção a tudo o que se passa na vida que determina o curso da mesma e a saúde do nosso corpo físico, entre outras coisas.
Assim me falou Leonor, uma amiga e colega dos tempos da universidade que eu já não via há anos e com quem me encontrei, ontem à tardinha, num velho restaurante do Chiado. Continuava bem de aparência mas via-se que necessitava de falar. Durante e sobretudo após o almoço contou-me como uma série de factos inesperados na sua vida haviam desencadeado, no seu plano emocional, sentimentos de profunda dor, logo seguidos de zanga, cólera, rejeição e até aversão. Autênticos venenos para o seu ser, admitiu. Adoecera mesmo.
Felizmente, tomei rapidamente consciência disso e logrei transmutá-los. Para o quê?
Para a aceitação em mim de que não posso mudar os outros, não sou responsável pelos seus actos, não posso dirigir a sua rota nem colori-la dos meus sonhos e expectativas, ainda que os outros tenham a sua quota responsabilidade na construção dos mesmos.
Mas posso, num acto de profundo amor por mim e pela vida, deixar de alimentar com sentimentos reactivos formas-pensamento que só poderão empestar os meus dias e arrastar-me para uma vibração baixa. Não sou responsável pelo comportamento dos outros – desamor, egoísmo, arrogância, (auto)traição, volatilidade, inconstância, deslealdade, ingratidão, o que quer que seja. Nem sequer me cabe julgá-los. Constato, apenas, pois não sou cega. E sigo o meu caminho.
Soa a fácil, mas não é.
Antes de mais, torna-se necessário desenvolver uma profunda confiança na vida, nos seus misteriosos caminhos e na forma, por vezes brutal, que ela tem de nos acordar da ilusão.
Depois, é preciso humildade para ser capaz de olhar de frente os factos que o ego busca sempre embelezar, pois a verdade morde por vezes fundo e dói na devida correspondência.
E, finalmente, torna-se imperativo alcançar um estado interno de serenidade para que a aceitação ocorra sem distorções nem embelezamentos enganosos e retire, desse modo, ao outro o poder de nos atingir.
O problema, em última análise, é sempre nosso: alimentamos a ilusão, projectamos nos outros a nossa expectativa e carecemos de lucidez e de coragem para detectar a mentira e a fraude, quando estas ocorrem.
Leonor olhou-me, como se me não visse, os olhos grandes e pensativos focados para além de mim, numa serenidade quase contemplativa. Sorri-lhe e soube que para ela aquele era já um dia novo. Não diria de sol brilhante, mas um dia tranquilo, provavelmente pleno de muitas pequenas coisas valiosas que os estádios de dor e de estupefacta revolta não nos deixam ver.
Agarra com todas as tuas forças esse dia novo, amiga, e inscreve na sua memória este teu passo em frente!
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