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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A BOLHA

Às vezes fico assim. Parece que dou um salto dentro de mim mesma, um salto de silêncio e em silêncio. Perco o fio à meada, perco a vida, a lógica, o bom senso e fico a boiar dentro desta bolha onde não há nada. Ou melhor, há, mas não tem voz, não se sabe expressar.

Parece-me um espaço entre mundos, uma espécie de transporte para uma outra dimensão à qual nunca chego.
E depois de ficar assim por algum tempo, volto à minha aparente normalidade, perplexa e ainda silenciosa.

Acho que esta bolha me desperta para o sem fim do que me falta alcançar na consciência, os múltiplos véus que cobrem o caminho. Ou os caminhos, pois podem ser vários, em simultâneo, quase em competição uns com os outros, através desta personagem.


A bolha...
Não lhe consigo ver mais nenhum propósito, porque nunca chego a nenhuma conclusão, a nenhum destino.


Exausta mas, estranhamente, apaziguada, retomo depois, em geral, as funções de superfície.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

DAR ROSTO À INVISIBILIDADE


Reencontrámo-nos ontem, no final da tarde, num cantinho da FNAC em Évora.  A Ana Ferreira Martins e eu.
Os livros têm sido o pretexto para os nossos encontros, mas percebi ontem que há caminhos que têm inevitavelmente que se cruzar, pela afinidade das motivações.
Tocou-me a importância que a Ana deu à minha presença porque tem a ver com a intimidade e  o reconhecimento instantâneos que  ocorrem entre certas almas.
A Ana escolheu, durante a sua vida, lançar um olhar atento e empenhado sobre os excluídos e deixa-nos agora este estudo sobre a mulher sem acesso ao privilégio elementar e básico que é ter um cantinho com tecto a que chame o seu lar, na nossa cidade de Lisboa.
Uns meros 30m2, com uma kitchenete, um WC, uma cama confortável, mesa e cadeira, q.b. como primeiro socorro. Mas não acontece ainda, na nossa sociedade, onde o número de mulheres excluídas socialmente aumenta, actual e dramaticamente entre as mais jovens.
O fenómeno, de abordagem muito complexa e difícil, tem origem na ordem de valores estabelecida que, para manter vivo um sistema obsoleto de privilégios dos poucos, faz vista grossa sobre o flagelo da pobreza e da exclusão social e  os problemas que o mesmo acarreta. Com toda a admiração e respeito que nos deve merecer o trabalho das várias instituições e indivíduos empenhados no alívio do sofrimento físico e psicológico das sem abrigo, o facto é que só o poder político pode viabilizar os instrumentos sociais indispensáveis ao tratamento eficaz deste fenómeno. Algo que continua a não acontecer nas nossas sociedades.
Maria, Sem Abrigo, 29 anos: “É assim, eu nunca votei em ninguém. As pessoas que votam, é bom, vai lutar por uma pessoa que vai lutar pelo país, mas o único meu voto que eu faço a toda a hora, a cada instante, é em DEUS...para mim não tem significado nenhum, porque é assim, eles é que ganham!...”[1]

Eles é que ganham.  E Deus parece ocupado demais para intervir.
A Ana falou de como é difícil caminhar socialmente quando se é pobre. Um cansaço brutal, tudo tão difícil, conducente à desistência.
Lembro o olhar da Ana, um olhar matizado pelo muito e doloroso que já viu durante a sua vida de assistente social, no caminho percorrido com coragem. O olhar da Ana entra no meu coração e nutre a esperança.
As palavras da Ana dão rosto à invisibilidade das mais frágeis entre nós, das esquecidas, fustigadas pela pobreza e miséria a todos os níveis. As que se escondem, as que não podem apoiar os seus filhos como desejariam, as que se prostituem por tuta e meia para sobreviver com precariedade, as que levam pancada a torto e a direito.
E permite ainda a expansão do conceito da sem abrigo, extensivo a toda a mulher que, esmagada pelo sistema patriarcal,  não sai da casa onde habita com o companheiro, por não ter para onde ir, à excepção da rua.
As palavras, o trabalho e o olhar da Ana são agitadores de consciência. Lembram-nos o muito que há a fazer, não só no plano da realidade imediatamente tangível, como também e sobretudo num trabalho diário de expansão da consciência do que é a mulher integral, uma vez resgatado o seu poder pessoal há muito aprisionado nos liames traiçoeiros de um paradigma de valores injustos e inadequados à verdadeira evolução da humanidade terrestre.

Um Viva à Ana,  nossa irmã!

Mariana Inverno,  Notas à Sombra dos Tempos (II)







[1] Ana Ferreira Martins, As Sem Abrigo de Lisboa, Ed. Chiado, 2017

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

INVISIBILIDADE E AMIGA D'ALMA

Evelyn Williams















“Y ahí estoy yo, creada a pesar de que los otros no me ven.
 Un alma con pechos que nutren. Un ser de la creación.”
Ana Cortinas Payeras



Há uma espécie de invisibilidade na vida real,  semelhante ao bloqueio do outro que as redes sociais actualmente permitem, e que afecta muitos de nós. Este fenómeno prende-se desde logo com o utilitarismo, que é uma espécie de pulsão de morte que tem alastrado impiedosamente pelas nossas sociedades.

Sentires como amor para sempre, lealdade, reverência perante a experiência e a idade, prossecução do conhecimento através do esforço persistente e altruísmo, entre outros, são coisas do passado. Tudo o que é psicologicamente difícil é evitado e o ser humano parece apenas apostado em encenar a felicidade.

Hoje, interessa-nos o que e quem nos é útil, pelo tempo em que tal utilidade funcione. Seja qual for o laço que une as pessoas, desde o encontro ocasional na vida, até ao mais sagrado dos laços: a relação filho-mãe. A nova humanidade foge de problemas emocionais como o diabo da cruz e literalmente bloqueia e apaga (como no facebook) o que a possa fazer pensar, portanto incomodar e que, sobretudo, não seja rentável (útil).

Ora só os afectos e a atenção do outro, alheios a qualquer noção de utilitarismo, nos dão a sensação de sermos visíveis pois o espelhamento daí decorrente é essencial para uma saudável auto-estima e sustentabilidade da construção que qualquer vida humana deve representar. Quando o olhar e a atenção amorosa do outro são desviados do nosso ser, instala-se um sentimento de traição e de abandono difícil de ultrapassar. Tornámo-nos invisíveis para o outro, perdemos a validade.

A minha avó Mariana que hoje, se fosse viva, teria 120 anos, introduziu-me ao conceito de “amiga d’alma”. Ela chamava-me assim e, apesar da minha juventude, essas palavras e o sentir que lhes estava subjacente colaram-se à minha estrutura anímica de forma permanente.  Uma amiga d’alma é alguém que está ligado a ti, para além da tua utilidade e/ou do desentendimento ocasional. O seu olhar, a natureza afectiva e táctil  do laço são fulcrais para a boa estruturação emocional de qualquer ser e para o sentimento de visibilidade ou seja de existência válida e com propósito que todos precisamos de experimentar. Ainda mais:  emana da amiga d’alma uma espécie de permanência que é profundamente reconfortante, num mundo onde se tornou moda dizer que tudo flui. Sim, a vida terrena é fluir mas só o reino dos afectos verdadeiros tem a eternidade assegurada.
É que o afecto flui como mel por entre os escolhos da vida, dulcifica os problemas emocionais e fortifica-nos na coragem para o incontornável encontro com os nossos fantasmas. O afecto manifestado ergue-nos acima da linha de água e confere-nos a elasticidade de movimentos e de aspiração desejáveis para a difícil sobrevivência na Terra.

Mariana Inverno, Notas à Sombra dos Tempos (II)













domingo, 18 de agosto de 2019

SER UTILITÁRIO - Nosce te ipsum

SER UTILITÁRIO
Nosce te ipsum

Por estes dias o espírito parece afastar-se mais e mais das personas e o binómio ser útil=ser “amado” ganha cada vez mais força. Não é que as pessoas sejam apenas más e egoístas e se estejam nas tintas para tudo o que as incomode e que não acarrete algum ganho material (imediato, de preferência).
O sistema sob o qual vivemos e respiramos na Terra incentiva  cada vez mais as pessoas a olharem para o seu umbigo e se preocuparem unicamente com a sobrevivência e os interesses de ordem material. O materialismo infiltrou-se habilmente em todos os aspectos da vida e hoje só reina quem tiver valor material. Ou seja, quem possa trocar por notas a atenção e os cuidados de que precisa em qualquer idade, especialmente na velhice.

A propósito, aconselharia a todos que examinassem a sua vida, relacionamentos e comportamento com o seu núcleo mais próximo, incluindo também os  parentes mais pobres, os idosos e os doentes de anos e em consciência tentassem estabelecer o que os tem movido em todas as circunstâncias.
Embora os doentes e os idosos sejam casos extremos, acho igualmente importante estabelecer o que está por detrás das “trocas de amor”, quais as forças em jogo em cada laço.
O que é que eu amo na outra pessoa? A juventude, a beleza física, as oportunidades proporcionadas, o seu poder material, a autoridade que me falta a mim, o talento ou a sabedoria que não possuo, a fraqueza que posso dominar, processo para o qual transfiro o meu vazio interior? A sua submissão aos meus caprichos e/ou necessidades? O facto de representar uma companhia, no meu processo solitário?
Hábito, laço familiar? A lista de possibilidades é infinita...
Não se ama o que se não conhece e, se não nos conhecemos realmente a nós próprios, como podemos ver o outro na sua verdade anímica?


Usamos as palavras amor e amizade de forma muito leviana. Todos sabemos que casa onde haja fartura e vida alegre e ligeira, está sempre cheia de amigos. Se a adversidade e a doença a tocam, os amigos desaparecem como por encanto e o silêncio das paredes é a única companhia de quem fica. Se alguém ficar...

Seria talvez a hora de começar a reflectir sobre o que está por detrás de nós mesmos, enquanto personalidades complexas no jogo da vida. Essa vida, cuja verdadeira essência e propósito continuamos a ignorar.


MARIANA INVERNO, in “Notas a Sombra dos Tempos”

quinta-feira, 25 de julho de 2019

COLD READER





Talvez valha a pena reflectir sobre o conceito de cold reader.  Uma amiga mencionou o termo há dias, durante uma conversa, aplicando-o a alguém que ambas conhecemos.

Cold reading é uma espécie de vampirismo de ideias, palavras, gestos, estilos, que uma pessoa faz da outra, através da observação e os utiliza, depois, de forma mimetizada. Sem ter integrado, é óbvio, tudo o que está por detrás de cada um deles: experiência pessoal específica, anos de estudo, uma inteligência concreta ou intuitiva,  heranças da linhagem e as múltiplas e em grande parte misteriosas variáveis ligadas a cada pessoa e que a tornam única. O cold reader é hábil nessa prática e passa muitas vezes não detectado, sendo pelo contrário objecto de admiração dos demais.

Na ponta extrema deste fenómeno e com uma acepção particular, situam-se os casos mais gritantes de cold reading de auto-proclamados médiums, videntes, leitores de tarot, certos psicólogos, et cetera, que abundam nas sociedades actuais em crise e se aprimoraram na arte de manipular os seus fragilizados clientes. Isso acontece através de uma desenvolvida capacidade de, através de declarações de carácter geral,  ir extraindo a informação que o cliente lhe vai passando sem que este último se dê conta disso. Perante afirmações generalistas por parte do reader, que se aplicam a um vasto numero de pessoas e situações, o cliente tende a validar subjectivamente os detalhes que se lhe apresentam correctos e a esquecer os outros. De igual modo, a leitura corporal e a gestualidade do cliente em muito auxiliam quem “lê”.
Existe todo um manancial de livros, guias e orientações que ensinam um cold reader a profissionalizar-se, in twelve easy lessons.

A cold reading, porém, é feita por todos nós em maior ou menor grau e a inter-influência de todos os aspectos acima referidos é um facto inescapável.  O nosso software interno busca, constantemente, referências, ideias, padrões de comportamento, icons. Quanto maior for o vazio interior, a falta de cultura ou de honestidade e a insegurança pessoal, mais acentuada se torna essa apropriação instantânea e indevida daquilo que no outro pensamos poder acrescentar algo ao que somos (ou parecemos ser), enriquecer a nossa imagem e performance perante a audiência.

Como obviar, então, aos efeitos perniciosos do cold reading?  Creio que só pela consciência, no assumir das nossas reais qualidades e limitações, num sincero e aprofundado exercício constante de humildade e de respeito pelo outro, poderemos consegui-lo. A busca de criatividade que nos habita deverá ser o nosso timoneiro na auto-descoberta. O que existe – o mundo natural, os estudos para o conhecimento, a intuição, os sonhos e tanto mais – está aí para todos. E cada um tem a oportunidade de neles trabalhar, sem necessidade de roubar ao outro palavras, posições, expressão artística.

Tenho demorado toda uma vida a identificar quem é, no meu núcleo mais próximo, declaradamente cold reader. Não é fácil encarar esse facto, em especial quando existem laços de afecto com o outro. Como duro é encararmos as vulnerabilidades que nos tornam presa fácil do cold reader.
Torna-se porém deveras insuportável, até mesmo doloroso, identificar em nós próprios os indícios dessa prática, por vezes inconsciente, mas sempre aparentada da fraude.


domingo, 14 de julho de 2019

LAZER - Outra forma de trabalho


Ando a descansar, à força. Tento aproveitar o que me resta do fim de semana para me entregar a  mim mesma e a uma palavra meia alheia àquilo que a vida me tem permitido: lazer.
A palavra legitima o merecido descanso que pode corresponder a actividades prazenteiras para o ser, no meu caso ler, escrever, remexer os livros, papéis, objectos de culto, estudar as mil e uma coisas que não sei. Ou o jardim que amo e que visito e amparo com a regularidade possível. Como a minha saúde começou a acusar a carga excessiva de trabalho e, sobretudo, o efeito corrosivo de transtornos emocionais, faço um esforço no sentido deste “ócio”, leia-se, apartamento da actividade directamente ligada ao dever e o ganho material para a sobrevivência.
Dormito a espaços regulares, frente ao écran, livro ou simplesmente recostada numa tentativa de meditação – apago zonas de pensamentos sombrios, enraizo-me, faço-me rodear apenas do alívio que as flores me trazem...

Quantas noites escuras da alma ocorrem em cada vida? Já vou na terceira ou quarta, sendo a actual a mais dura de todas. Uma amiga estudante de astrologia disse-me há dias que este período da minha vida, fortemente regido por Saturno e que já dura há anos, corresponde ao maior desafio por que passo nesta vida, mas que o meu mapa indica que a crise terminará no final deste ano. E que a partir de 2020, tudo se iluminará no meu caminho para a transcendência, algo a que a minha alma aspira com todas as forças. Que vou escrever muito mais, que posso até ganhar dinheiro com isso (difícil de acreditar, num país como Portugal e dado o estado colectivo das coisas e das pessoas...)

Enfim, é preciso acreditar nalguma coisa. Só me tenho a mim própria (que vou descobrindo o que sou), este ser mutante em busca da alma encantatória de dias de paz e de coerência.
Por ora, tenho o resto de um domingo vivido dentro de portas – está um braseiro lá fora -, o meu doente adormecido até pelo menos final da tarde, o silêncio da casa grande, que continua à venda, esvaziada da famíia que criei portanto vazia de afectos, as saudades das minhas crianças que já me parecem pertencer a outra encarnação.
Sinto os olhos mortos ante tanta e bela arte que muito significou para mim no passado. Tudo tão estranho, desconhecido...
Mais tarde, vou ter de preparar o dia de trabalho de amanhã, que disso não me livro. Cozinhar algo para o meu doente, auscultar o que diz o ar ao cair da noite alentejana e inventar outra crença qualquer para me ir aguentando.
Ah, carpe diem...descanso, lazer, reinvenção/redescoberta do propósito da vida.

Quem sabe...
...se ninguém sabe nada?

Quadro: Tarsila do Amaral, "Figura Só"

sábado, 20 de abril de 2019

SÁBADO DE ALELUIA

Da Vinci


Sábado de Aleluia.                                                                               Mergulho na ideia de um merecido descanso. Com coisas a fazer, mas são daquelas que gosto... escolher poemas para uma récita, escrevinhar  sobre a escuta dos murmúrios interiores, arranjar flores...coisas que relaxam e me trazem um delicioso sentir de cumprimento.
Karin Leonard
Floriram os narcisos, distribuem-se amêndoas e folares. Este é o lado simpático do momento que passa. Mas as notícias lembram que morreram quase trinta turistas alemães na Pérola do Atlântico, aquela jovem e promissora jornalista de sorriso aberto foi ceifada por uma bala perdida em Londonderry, o tecto de uma igreja na África do Sul matou umas dezenas ao desabar sobre os fiéis durante um serviço religioso. A Líbia está novamente à beira de uma guerra civil e ainda se vislumbra, no horizonte da nossa memória, o negro dos fumos em Notre Dame. Trump continua a reinar, impune, do alto da sua arrogante e patológica condição, o populismo avança por toda a parte. Mais todas as coisas de que ninguém fala, ou se fala pouco, porque são histórias distantes, gente que não conhecemos, mundos diferentes do nosso.
O ar por aqui cheira a terra molhada, após as chuvas da noite – parece que o tempo  vai melhorar substancialmente nos próximos dias – e sinto uma necessidade enorme de me concentrar nas ditas coisas simples da vida, no dia a dia, sem grandes filosofias. As colaboradoras do monte andam atarefadas com a matança dos borregos e  a celebração da Páscoa e, pela primeira vez na vida, estou sozinha, na Casa Grande, nesta quadra. Sozinha, com o meu doente.
Houve sempre um fio condutor da continuidade na minha vida, mas no presente sinto que entrei numa espécie de outra encarnação. Desapareceram os aliados de outrora, não há vivalma em redor. Desdramatizo, pois há um lado bom em tudo isto: a casa respira serena o silêncio que se instalou ou, então, é percorrida pela música que elejo; está tudo arrumado, não tenho que trabalhar horas a fio na cozinha para alimentar uma família que nunca mais acaba. A vida ensina-me a aceitação das mudanças bruscas e, após o vale de lágrimas inicial, está tudo muito mais aquietado dentro de mim.


Da Vinci
Sábado de Aleluia! Um bom dia para pensar nas pequenas vitórias, escrevinhar coisas pouco importantes, arrumar gavetas, colher flores pois estamos no tempo inebriante da primeira floração das rosas, passar um olhar brando e compassivo sobre os pequenos dramas pessoais.
Ainda por cá ando, residente na Terra ensombrada pela humanidade a que pertenço, ainda me esperam poemas na curva dos dias.  Talvez novas coisas a fazer, coisas afins ao molde que a minha alma tanto quer imprimir aos dias.                                                              Talvez, quem sabe, um, a estas alturas,  improvável renascimento.