Partiu, há um par de dias, essa alma amiga da minha.
Uma alma com
fragrância de jasmim.
Partiu de noite, sob a luz feiticeira de uma generosa lua cheia, de olhos postos nos olhos que a amavam e que a encheram de desvelos e de alívios até ao último suspiro.
Partiu de noite, sob a luz feiticeira de uma generosa lua cheia, de olhos postos nos olhos que a amavam e que a encheram de desvelos e de alívios até ao último suspiro.
Abriu-se a porta para o jardim enluarado e a fragrância fecundou livremente os
ares com a sua beleza balsâmica, liberta por fim do sofrimento atroz.
Acorri a abraçar com a minha alma aquele cujos olhos amavam o
jasmim. A minha alma que chorou a partida prematura dessa flor perfumada que muito
amava a vida que não pôde prosseguir, mas que também derrama lágrimas muito
sentidas pelo doloroso vazio que sentiu no coração daquele que tanto amava o
jasmim.
Jazia ela na longa veste turquesa, como misteriosa fada celta,
coroada de flores, adormecida sobre o ataúde, o rosto sereno, a alma já em voo
livre para o Esplendor.
Recordei como, há muitos anos, aquele que amava o jasmim, enamorado
e feliz com a companheira, me confidenciou a apreensão de não saber se o Universo lhe retiraria aquele ser algum
dia...
A última vez que a vi foi na casa idílica que o amor de ambos
construiu. E era tal a vitalidade, o olhar encantatório sobre o mundo em redor
que se desprendia da alma com fragrância de jasmim que, apesar de a saber muito
doente, me interroguei sobre se não conseguiria vencer a onda maligna que a
invadira.
A manifestação tem, contudo, desígnios algo indecifráveis para nós.
A alma com perfume de jasmim acabou por partir, mas deixou na daquele que a amava a marca
indelével da sua alegria de viver, do seu amor por ele e pelos mistérios do
natural e do maravilhoso. Viveram ambos o toque de um mundo ainda inacessível para a maioria.
Amor é perfume inextinguível, o único verdadeiro perfume da Vida.
Amor tem toque de jasmim.