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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

PORTUGUÊS DE PORTUGAL, DO MUNDO



Ah, a língua! A língua, o poderoso fluxo que dá voz à  minha alma,  matéria-prima dos poetas,  voz do amor e da saudade derramada no papel, espírito vivo de séculos de marcha e experiências de um povo banhado pelo mar salgado…

Querem-te à força uniformizar, dar-te contornos incoerentes, desligados, cortar-te as asas poéticas – por obsoletas, dizem – querem que eu seja “espetadora” do mais degradante espectáculo (passe o pleonasmo, que o não chega a ser pois falta o “c” no sujeito), querem-te igual aos que te escrevem sem te saberem originalmente, só porque são muitos, muitos mais que nós e se expressam lá tão longe do teu solo pátrio…

Querem-te simplificada, sem adornos de acentos, igual em todo o lado, ininteligível para quem te estudou e absorveu com o amor ao sangue próprio, querem-te feia e minimalista, os meses a perderem a sua maiúscula e eu sem saber se ato ou desato?!

Mas quem, quem avalizou este crime? Quem assinou aquilo que coage artificialmente a voz escrita de um povo a tornar-se de um momento para o outro aquilo que não é e que não quer ser, quem são os que me ignoram e a ti e ao outro, indiferentes aos nossos gritos de angústia e protesto? Quem lhes deu poder, encomendou o sermão, por que é que eles avançam apesar dos movimentos contrários, petições, luto na alma?

Não passarão, prometo-te, Língua-mãe, Pátria de Pessoa, Camões, Natália, Pátria  minha, Shambala da nossa transcendência, colo dos meus sonhos, Voz inigualável de uma missão por cumprir!

Bela e ancestral, mulher e ventre, fértil seiva que as almas trabalham há tantos séculos, prometo-te respeito e obediência ao teu fluir natural que é feito de tantas coisas subestimadas pelos interesses  políticos e comerciais…

Mar e terra, voz do vento, pássaros do dia e da noite, dor e poesia, o indizível que baila nos olhos do navegador e do camponês, cheiros, fome, sede e luar aceso sobre os montes do sul em noites de lua cheia, cantos desgarrados, vozes antigas, deslembradas, a memória e o sonho de quem quer ser…

Ninguém me arrancará de ti, escutarei atenta o bater do teu coração sobressaltado e nele hei-de verter sempre, com amor e devoção, as produções da minha alma.

1 comentário:

  1. O pretexto de unificar... esconde uma realidade diferente que a palavra, dependente do contexto, não abarca:

    Não é de unificação que se trata, mas de HOMOGENIZAÇÂO.
    Caso para dizer 1-2-3... Prepara-se o puré!
    E o 'unificar' revela-se 'isolar'

    Pela referencia adulterada, as identidades perdidas.
    São dificuldades que teremos de utrapassar...
    para merecer a nossa herança.

    ... Até de Humanidade, de Filhos da Terra.

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