Há que estabelecer uma diferenciação entre o fogo do coração flamejante que promove o avanço do ser em direcção ao seu centro e os estados mentais febris experienciados por muita gente e os quais são facilmente confundidos com o primeiro.
O coração animado pelo Fogo assenta, em geral, em estruturas anímica e da persona equilibradas e não é motivado nem responde a estímulos de tipo sensacionalista, promissores de milagres imediatos ou de radical transformação das personas, de um momento para o outro. Cantar mantras, frequentar workshops de desenvolvimento pessoal, submeter-se a um sem número de terapias – o catálogo das disponíveis actualmente é impressionante! -, adorar e seguir cegamente um guru ou simplesmente trajar de monge tibetano ou com vestes alvas, só por si não produzem qualquer modificação qualitativa no ser humano. Contudo, é frequente depararmo-nos com pessoas inflamadas por uma “febre de espiritualidade” ligada a um ou mais dos factores anteriormente apontados.
Fundei há anos uma livraria especializada nestas matérias ditas do espírito e, no contacto com o público, fui-me dando conta da frenética apetência de grande parte dos frequentadores para entrar em estados de lamentável excitabilidade, os quais derivavam facilmente para um sentimento de superioridade em relação aos outros comuns mortais por “não serem nada espirituais”.
A atracção do atalho para encurtar a rota funciona neste caso da forma ilusória que lhe é própria e por demais conhecida dos seres que trabalham seriamente na sua evolução. Não há como não percorrer o caminho inteiro, com todos os seus obstáculos e testes, não há como não lidar com a sombra, só o posicionamento humilde e persistente no trabalho da consciência nos permite passar os estreitos portais para o Conhecimento e para a Luz.
Na dita livraria, vi-me a braços muitas vezes com a embaraçosa situação de ser questionada sobre as minhas “habilidades paranormais”. O meu protesto no sentido de ser uma pessoa completamente normal, não detentora de capacidades mágicas de cura ou do “abre-chakra, fecha-chakra”, muito em voga, era quase sempre rejeitado por parte dos interlocutores com um olhar misterioso de entendimento cúmplice e secreto a que se seguia num múrmurio, “Compreendo, não pode falar…”.
Pois falar, escrever, é aquilo que posso realmente fazer. Assim, sem pretensões a ser quem não sou, o que não sou.
Ando por aqui, às apalpadelas como os outros, agarrada às palavras a ver se me descubro mais, se me oriento no caminho para o centro, se me não distraio de mim e daquilo a que vim.
A ver se o Fogo se acende de forma permanente e o Coração Flamejante abre as asas ígneas e me permite o Voo!
Isso acontece mesmo Mariana! Sempre o desejo do poder...e ao deixarmos escapar um flash qualquer já pensam que somos portadores de habilidades paranormais, como bem disse acima.
ResponderEliminarEnfim, olha-se e percebe-se a vida como se pode...
Belo texto.
Beijo
Astrid Annabelle
Obrigado, Astrid. É muito encorajante o seu acompanhamento do que escrevo.
ResponderEliminarBem haja!
Um beijo para si
Mariana