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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

AGONIAS



Ter hoje apenas ecos da força estranha que um dia, avassaladora, me percorreu as células, as físicas e as outras, e me ligou ao coração da vida…



Passaram luas sobre luas, o tempo cavou sulcos fundos na pele da alma da gente, restaram folhas ensanguentadas à deriva no arco maior dos sonhos incompletos, do canto que se não fez ouvir…

Quem me poderá levar para além da minha dor, senão eu mesma? Quem irá desmascarar as transferências, as projecções, as dependências, o amar sobretudo o amor que outrém sente por nós?

Quem resgatará a tua alma, quando o portal se abrir e os mil coros do mundo encoberto  te lembrarem a grandeza que mantiveste velada, porque a prova parece ter ido longe demais?

Papéis inexactos, entradas em cena fora do tempo adequado, o destino titubeia palavras imprecisas no quente vento estival, somos náufragos de um barco que um dia partiu enlouquecido de amor, mas de casco já furado,,,

Entrar no vazio com coragem, embora o chão nos escape e a tentação de olhar para trás  lance fogos fátuos na escuridão dos equívocos e dos arrependimentos…

Não há nada à nossa espera senão aquilo que já somos, súmula do que vivemos ou não vivemos, pássaros nocturnos de asa quebrada, vulneráveis no ar e em terra, filhos de um quase, em breve só memória…
Mas tu és quem eu sei que és. Talvez que eu não seja quem dizes eu ser.
Tempo da verdade.

Mariana Inverno, NOTAS À SOMBRA DOS TEMPOS

Litografia: Montserrat Gudiol

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