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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

REMINISCÊNCIA

“A sabedoria não é dada pela vivência mas pela reminiscencia.”

NATÁLIA CORREIA



Ando sempre no encalce de uma certa reminiscência. Dei-me conta disso há algum tempo, ao tentar compreender percursos passados e um certo padrão comportamental recorrente através da minha vida.

Este algo de reminiscente que detectamos nos outros ou em determinadas situações liga-se por vezes de forma mágica ao que lhe é contraparte em nós e estimula-nos – se conseguirmos alhearmo-nos da força do racional – a acções imprevisíveis e até aparentemente absurdas.

A reminiscência, neste sentido, é comparável a uma recordação muito vaga, quase apagada, um resíduo qualquer que, contudo, toca misteriosamente botões-chave em nós. Essa lembrança indecisa é como que retomada pela consciência e por vezes, de forma incontrolável, alcança alturas de verdade transcendente. Transporta-nos irremediávelmente para algo mais acercado do que nos é interior e precioso e desse fenómeno irradia uma espécie de sabedoria que nos conduz por trilhos inesperados.

É como se a fortaleza do sensível nos impedisse de termos acesso, na densidade, ao que deveria ser naturalmente inteligível. Pois aquilo que os sentidos interiores detectam dá-nos forças, nutre o nosso voo interior que chega a fazer-se exterior e revelado, com tudo o que isso implica.

Não me refiro, como acho ser óbvio, ao sentido mais imediato da palavra “reminiscência”, como memória mais ou menos exacta de factos, pessoas, situações já vivenciadas nesta existência. Aponto aqui para algo mais subtil mas infinitamente mais poderoso que nos catapulta com frequência para uma espécie de auto-transcendência naquilo que sempre fomos (ou aparentámos ser até então).

Trata-se de uma identidade, sintonia, dejà vu, reconhecimento (por vezes brutal) de algo ou de alguém, de um horizonte ou circunstância, que faz tocar as sinetas ocultas das nossas células e nos impele numa direcção nova. Frequentemente, o reconhecido nunca chega a ser completamente lembrado, muito se perde aqui na densidade, pois creio ser provável que esses poderosos auxiliares de memória provenham do reino do Absoluto onde tudo está registado e ao qual não temos acesso directo.



O que é certo é que, para mim, detectar essa reminiscência no que me é exterior, constitui sempre estímulo e é fonte de uma certa alegria. Pelo menos de início, quando o milagre se dá.

Depois tudo tem a ver com a continua decisão da alma de buscar o genuino, não obstante as dificuldades e as inconveniências do processo.



Mas vale com certeza o empenho pois, como diz Natália Correia, o sentido sábio das coisas só nos pode ser dado afinal pela reminiscência.

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