Mentes.
Minto. Mentimos todos.
Numa
proporção que é própria de cada um, todos praticamos dentro de nós este
exercício de ajustamento da realidade exterior, daquilo que acontece, ao que
nela queremos ver.
Os
analistas do comportamento chamam a isto “dissonância cognitiva”, a qual
assenta numa série de distorções ou pequenas mentiras que nos dizemos para
ajustar o resultado (seja ele teórico ou empírico) à nossa visão ou intenção
primeiras.
Se
formos honestos q.b., notaremos que este fenómeno está presente, por exemplo,
em quase todos os debates – ninguém parece estar ali para pôr as suas
informações e crenças à prova, mas sim para as confirmar. Assim, tudo é
aproveitado no discurso do outro para dar força ao nosso ponto de vista e para
validar as nossas crenças. Por outro lado, o que não nos serve, é combatido ferozmente ou, de preferência, ignorado.
Desde
negar evidências, alterar ou mesmo criar falsas memórias e distorcer
percepções, o ego cria todo o tipo de mecanismos de defesa para que o nível de
conflito entre o que se deseja ver e o que na realidade se apresenta diminua e
a dissonância perca força. O assunto agudiza-se quando as crenças são antigas e
muito enraizadas, pois o nível de sofrimento do indíviduo e a energia
necessária para enfrentar a questão e superar a dissonância assumem proporções
gigantescas.
Assim,
nada como admitir o óbvio: mentimos!
Talvez
seja melhor encararmos como pudermos e soubermos o facto em si, próprio da
nossa humanidade, do que nos perdermos em conflitos infinitos com o outro,
instalados no egóico altar das nossas ilusões.
Trabalhar
neste processo exige um esforço de humildade relativa sobretudo à nossa faltosa
percepção e a certeza de que há neste mundo tantas visões e sonhos
diferenciados quantos os indivíduos que o habitam. Que o nosso ego extravasa os
limites da sua competência no nosso processo evolutivo, ao construir teses
ilusórias com o fim de manter vivas as nossas crenças e validar-nos no pouco ou
muito que vamos aparentando ser.
E que,
apesar de tudo, ainda vamos tendo alguma capacidade para nos desmascararmos.
Se quisermos…
Se quisermos…
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