“Como uma voz de fonte que
cessasse,(...)
a voz que do meu tédio nasce”
Fernando Pessoa
Desde
sempre que a voz humana constituiu para mim uma referência valiosa sobre o
outro. Não que pensasse nisso ou decidisse à partida que tinha de a avaliar
para saber quem estava à minha frente. Aconteceu sempre, de forma espontânea.
Sem
que o espere, a voz do outro abre-me o coração, irrita-me, devassa-me ou
reverencia-me, conquista-me, indispõe-me, cansa-me, tranquiliza-me, arranha-me
o ouvido, acaricia-me ou agride-me.
Num segundo, apresenta-se-me no outro, através da voz, o aliado, o inimigo, o cúmplice, o ser doente ou mal amado, o agressor, o fraco, o perdido, o invejoso, o falso. Como me pode, pela voz, tocar a inconfundível chispa do amor, da criatividade, da força, do estímulo, da autoridade e da ternura em disponibilidade. Por mais que, por vezes, as palavras emitidas pareçam dizer algo de diferente.
Num segundo, apresenta-se-me no outro, através da voz, o aliado, o inimigo, o cúmplice, o ser doente ou mal amado, o agressor, o fraco, o perdido, o invejoso, o falso. Como me pode, pela voz, tocar a inconfundível chispa do amor, da criatividade, da força, do estímulo, da autoridade e da ternura em disponibilidade. Por mais que, por vezes, as palavras emitidas pareçam dizer algo de diferente.
Ao
tomar consciência destes factos, passei a reflectir sobre a voz, esse primordial
instrumento de comunicação, sine qua non, resultado a nível físico de um
trabalho conjunto dos sistemas respiratório, digestivo e nervoso, dos músculos
e até da arquitectura do esqueleto. A voz é som, vibra no ar, de uns para os
outros, montada na sua intensidade, inflexão e altura. Na forma como as
palavras são articuladas.
Sinto,
porém, que há muito mais por revelar. Como em tantas outras áreas, acredito que
também no caso da voz, misteriosos véus de olvido barram a nossa memória no que
se refere ao seu grande poder - íntimamente associado ao que cada um é, em
essência – e à sua capacidade interpretativa e de comunicar o estádio em
que, momento a momento, nos encontramos na manifestação.
Cada voz
desdobra-se em mil vozes, múltiplas e opcionais, que aguardam ser redescobertas
e reintegradas na nossa consciência, como valiosos indicadores acerca de quem
nos rodeia.
De forma
paradoxal, destaca-se de entre todas a voz do silêncio, uma das mais poderosas,
pela sua capacidade de por vezes curar o próprio, punir o outro, consentir na
injustiça por omissão e sobrepôr-se à compadecida e cálida voz do coração.
Assim, amigos, nem sempre o silêncio é de oiro...
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