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sábado, 25 de maio de 2013

PALAVRA - BARCA DE RISCO


A palavra permite-me escrever sobre o meu não saber das coisas e da vida, da morte e dos improváveis, dos sonhos desconhecidos engendrados onde se não sabe, a palavra é a minha barca de risco, a esperança última de uma depuração que me convem para que me tente salvar.

Não quero morrer toldada de ilusões, nem permanecer na memória dos outros como se eu tivesse sido o meu veículo físico e o meu eu social. Esses terão sido apenas franjas, adornos de uma circunstância passageira, efémera. Quero que a palavra me escave, me penetre impediosamente como um aguilhão fomentador de lucidez e coragem  e me leve para além do que aparento ser. Nisso reside a minha talvez única possibilidade de auto-descoberta, aí vive a réstea de esperança de me confrontar com o que me habita sem que eu saiba. Sem que lhe conheça os contornos, a origem, o propósito.
Sei que me aguarda o inimaginável, sei que por entre  os leitos das flores que tanto amo serpenteiam sulcos áridos ressequidos por vivências da anti-vida. Suspeito que as fórmulas  para as abracadabras se hão-de  apresentar inesperadamente simples e óbvias, embora inalcançáveis por agora. Aí me levará a minha barca de risco, talvez mais longe, quem sabe…
Que ela me faça transitar pelos demónios da mente e os neutralize! Que dirija os meus impulsos, a descoberta dos núcleos recônditos aonde o mundo não se atreve a espreitar e lhes revele a face oculta, ao coroá-los na tangibilidade da palavra. Na palavra que há-de ser inevitavelmente feroz para abalar o estabelecido, a consciência levantada sobre si mesma, a falar de uma maior autenticidade e clareza na experiência.
Na união de saber a vida, ao sentir o que se vai sabendo.


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