Ganhei horror ao julgamento. Sei-o agora, eu que já julguei tanto,
sentada numa auto-atribuída auréola de santidade e de certezas finais, limpas,
um mundo de crenças justas e definitivas e de arrogante capacidade de avaliação
dos cenários da vida, em especial os dos outros. Chegava a comover-me a minha
personita virtuosa, tão rigidamente segura de si e do seu poder para arrumar em
prateleiras adequadas caminhos tortuosos, feitos épicos, faltas de moralidade e
até conceitos filosóficos e seguir em frente.
Ganhei, entretanto, horror ao julgamento. Agoniam-me os discursos
redutores, as análises críticas do comportamento alheio e, pior ainda, a sua
condenação. Entrou-me uma espécie de alergia anímica aos ataques brutais seja
do que ou de quem for, pois o insondável das causas por detrás de tudo quanto
existe baixou sobre mim como um grande silêncio purificador e selou-me os
lábios com um beijo de humildade e compaixão.
Os juízos de valor estabelecem sempre relações entre conceitos
conduzindo depois a uma afirmação. E é do inquestionável desses conceitos, mais
ainda da afirmação definitiva a que os mesmos conduzem, que a vida me foi
ensinando a desconfiar.
Não falta hoje informação. Muita, abundante, em geral deturpada ou
voluntariamente manipulada para alimentar conflitos, separatividade e nos
envolver na confusa penumbra da inquietação. Acima de tudo, parece que é
preciso ser contra ou a favor. Condenar ou apoiar, como se a vida estivesse
dividida em campos estanques de claro e de escuro e tivéssemos de os classificar,
urgentemente.
Ganhei horror às palavras condenatórias, aprendi a recorrer ao
silenciamento dos ímpetos abruptos dentro de mim.
Quero escutar a voz mais funda, a que se nutre na tentativa de compreender a complexidade da existência humana, tão experimental ainda.
Quero escutar a voz mais funda, a que se nutre na tentativa de compreender a complexidade da existência humana, tão experimental ainda.
Sabemos muito pouco e quando os egos excitados cavalgam sem
prudência pelos campos das mal fundamentadas certezas, dos ódios ou da adoração
mitificada, acabam por se abrir sob os nossos pés os grandes alçapões do erro.
Ao contrário do que se crê, a certeza racional acaba por ser
escorregadia. Há que ancorá-la no sentir e ter cuidado, um infinito cuidado com
a palavra que nos sai da boca.
Pois!...Informação!
ResponderEliminarTão promovida, quando nada é.
Que não é... E o que é? Crença!
Ou melhor...
Como a Crença (oposto do Intuir),
pode ser QUALQUER COISA. É agnóstica.
Sem alma, mecanica, um nada criado a
representar o que se perde para ignorar.
Nem é conhecimento, esse também sobrevalorizado.
Ao fim e ao cabo...
São apenas outros zeros-e-uns.
Apenas expressos de outras formas.
Outra forma de mentir, de morrer existindo.