Aonde toco, dói. Apesar
do passarinho insistente a cantar na grade barriguda da minha janela virada
para o monte antigo, do conforto infinito dos momentos roubados ao dever para
esta intimidade anímica. Apesar de saber como, porquê, para onde se vai, que não
há alternativas ao paramétrico páteo da
vida e que só dentro dos seus limites tudo se passa, mesmo assim atrevo-me.
O sonho é o trampolim
para o impossível e nele ensaio os passos de uma dança ainda não inventada, a
parte determinante do todo, como quem busca casa a partir de um quadro que ama
e cujas dimensões exigem uma grandeza de espaço inacessível à bolsa magra.
Ainda assim, seguindo princípios inacessíveis à compreensão humana, estas
coisas acontecem nutridas por fonte desconhecida que gostamos de imaginar
altamente colocada na hierarquia divina.
Aonde toco quase sangra,
de tanto doer. A exaustão tende a desligar-nos do nosso centro, mas um caminho
só vale se o conseguirmos percorrer até ao fim, segreda a capricorniana em mim
inspirada no mágico Don Juan e num esforço renovado agarro-me às palavras, ao
mel infinito das palavras que qualquer coisa podem esboçar, construir num
ápice.
Caminhante do trilho espesso,
sigo por pedras angulosas aos tropeções no coração da noite, prumo interior em
impulso equilibrista, sóis de outras
paragens a sustentarem-me o passo fatigado, canções noctívagas
renascidas de cada aperto, numa talvez patética heroicidade filha das
circunstâncias.
Para onde sigo só pode
haver mais de mim, se os passar , aos portais de abertura baixa, por onde a
vida me conduz.
Sustentável, terá de ser,
a dureza de prosseguir.
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