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sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CHAVES

Fora, como muitos outros, (a)traída pelo amor romântico um par de vezes na sua vida.
Um par de vezes sentira-se amada até à loucura, rainha do mundo, a mais bela, a sine qua non, a musa e a número um, a maior, a melhor, a mulher da vida do outro, insubstituível, enviada dos deuses. Um par de vezes achara que ali estava enfim a alma-gémea, um pedaço da mesma coisa e que a impossível fusão aconteceria mesmo a qualquer momento.
Foram sonhos e mais sonhos, sobressaltos e desgostos, a projecção do entendimento total a dar lugar à realidade mais palpável dos equívocos e do distanciamento. Traições camufladas, competições (entre os dois géneros), lutas de poder e o sonho sempre adiado de tocar de verdade o infinito através do outro. Um dia percebeu o engano, a fraude, a imitação de Vida que estes relacionamentos amorosos quase todos são, mesmo os mais pacíficos.
Ela sabia o que lhe cantava no coração, conhecia a memória do corpo, a saudade da alma. A imagem de um outro passo tingia-lhe ainda o olhar de uma prata azulada, reminiscente de luares antiquíssimos, afins de uma bravia interioridade que só a doçura extrema e a pureza poderiam emular.
Tivera, alcançara...a ilusão desse ponto. Tudo hipérboles, exercícios divergentes da rotina, fantasias com efe minúsculo a demorá-la escusadamente.
Com o passar do tempo, sobrava ela, agora. A memória do corpo, o canto da alma. Grandes chaves para a longa estrada de regresso a si mesma.

Quadro: "Amore" de Andrew Gonzalez

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