Calar as emoções e seguir a nossa vida da forma habitual sem as expressar é, com frequência, considerado politicamente correcto. Próprio dos educados, dos evoluídos mesmo.
Considera-se correcto não levantar a voz, não agitar os ares, não causar alterações abruptas numa ordem que se quer sem grandes ondas ou inconveniências para merecer o epíteto de civilizada!
Assim, as emoções e as dores, fechadas à chave nos recônditos do ser, fermentam perigosamente no veneno da sua não expressão e transformam-se em não detectáveis corpos de anti-vida os quais, cedo ou tarde, nos hão-de consumir em silêncio, de dentro para fora, e levar o mais precioso dos nossos bens: a saúde e mesmo a Vida.
Não sou politicamente correcta e sinto a Vida em mim com uma intensidade pouco habitual. Acima de tudo, preciso de a expressar, como indispensável me é o ar que respiro.
Ao contrário do que muito boa e “qualificada” gente proclama, acredito ser de toda a vantagem para o ser verbalizar a panóplia de emoções que o assaltam, desde a alegria à dor, do desapontamento ao medo e mesmo a própria zanga. Isto porque é importante tentar reconhecer o que nos habita, sem coloridos hiperbólicos ou a odiosa máscara de “se ser bom e estar acima do lixo emocional próprio dos fracos”, encará-lo e dar-lhe voz no momento adequado. Desde que não nos descontrolemos ou descarreguemos as nossas emoções de forma inadvertida sobre inocentes terceiros que possam estar no nosso caminho. Desde que cuidemos a linguagem que utilizamos, sem recurso a asneiras ou termos de mau gosto, os quais podem rapidamente acarretar o descontrole.
Dar expressão ao que nos vai dentro é próprio do ser humano e liberta-nos. Como, de dentro de um quarto abafado, abrir uma janela de par em par para o ar fresco da manhã.
A verdade é sempre algo relativo, pois cada um detém a sua. A mim cabe-me buscar e dar expressão à minha, apresentando-a em toda a sua inteireza perante o outro.
Ser assim leva-nos muitos “amigos”.
Elimina os politicamente correctos, para começar, os dissimulados, os falsos, os oportunistas, os teatreiros e os que se relacionaram com uma projecção mas nunca com o nosso verdadeiro ser. Cabe-nos muitas vezes a culpa de isso ter acontecido, pois o tango, em especial o da vida, é sempre dançado a dois.
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