Chama-se o Reino da Treta.
Embora há muito andássemos
desconfiados, nos últimos tempos, caiu
sobre todos nós como chuva grossa, em dia de céus plúmbeos, cerrados, daqueles
que não dão trégua. Caiu sobre nós e encharcou-nos até aos ossos, penetrou-nos
de forma laseriana, alcançando o âmago celular, sem lugar a dúvidas. É tudo
treta!
Desde os bancos da escola, onde nos
venderam formulas acabadas e infalíveis sobre a ciência, a política, a economia
e factos históricos com alturas de dogma, ao dia a dia penoso e recheado de
contraditórios e perplexidades que nos vemos obrigados a viver, a verdade é que
tudo ou quase tudo é mentira!
Tudo é efémero, artificioso, gerado
por motivos ulteriores e caiado de intenções manipulatórias, tudo parece
fabricado intencionalmente ad hoc,
tendo como objectivo o manuseamento destas marionetas que nos prestamos a ser.
Se, num ímpeto de revolta, pomos cá
fora a nossa indignação e nos recusamos a obedecer, tiram-nos o tapete, a
cenoura, a viabilidade e ficamos a falar sozinhos rumo a um fim desconsolado e
indigno.
Somos vítimas da nossa imperfeição,
da falta de consciência que nos caracteriza, da letargia em que nos deixámos
abater, distraídos, infinitamente entretidos com o reality show com que o
sistema global nos presenteia em cada esquina, no televisor omnipresente nas
nossas casas (que não são nossas mas do banco sempre pronto a saltar-nos em
cima, caso não pingue a prestaçao), na facilidade com que engolimos e apoiamos
o “bonzinho” mas nos esquecemos do perfume do que é verdadeiramente bom e
estruturado, daquilo que tem a ver com o que somos intrinsecamente e que as
nossas sufocadas almas tanto gostariam de gerir.
A hora é dura, mas pelo menos agora
já começamos a levantar o véu das inverdades. Cuidado, porém, com os excessos e
as precipitações. O sistema é muito eficiente na gestão de tais pecados e remete-nos
habilmente, sem que o notemos, para a nossa insignificância. Volta tudo à
estaca zero, ao desespero, à sobrevivência básica, lágimas, perdas, frustração
e nada.
Humilhante dominação dos mais fracos,
ausência de soberania pessoal e outras coisas afins.
Às vezes, desanima-se! Às vezes, é
grande a tentação de seguir mar adentro, como Alfonsina, e diluirmo-nos na
água, aquilo que maioritariamente somos, na matéria.
Mas alguma coisa em nós, seja o sopro do espírito seja o instinto de sobrevivência, lá nos ergue outra vez, para mais uma tentativa.
Mas alguma coisa em nós, seja o sopro do espírito seja o instinto de sobrevivência, lá nos ergue outra vez, para mais uma tentativa.
Parece ter chegado a hora da
desmontagem. Com inteligência, sem acelerações despropositadas, atentos ao que
está escrito nas entrelinhas. Vigilantes, solidários, audazes, precavidos,
enraizados.
É tempo de aprender o caminho de
saída do Reino da Treta.
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