Esta é a
hora certa de toda a incerteza futura.
Pois
ninguém sabe ao certo como se agarra a face mais brilhante dos dias por vir, há
muitas teorias e experiências-piloto, cada um fala ou faz a seu modo, ou não
faz nada, deixa que façam por si…
Parece que
devia estar para aqui a festejar, mas tenho frio cá dentro, ainda mais que lá
fora – baixou imenso a temperatura. embora o astro-rei tinja tudo de um
esplendor momentâneo.
Um dia
iniciado no contacto com o desvario, com a perda reconfirmada do que se foi e
não mais se será, não será talvez a melhor fonte de inspiração. No entanto, se
me fosse dada a escolha, não quereria estar noutro local, esta é a cor da minha
lenda pessoal, a que escolhi viver de forma consequente.
Pensei que
gostaria de dormir um pouco mais nesta manhã gelada de fim de ano, mas na
verdade o que quero é permanecer de olhos fechados, solitária colhedora interior de exóticas flores neste
mar de cardos, neste pantanal lúgubre onde há que reinventar a coerência das horas.
Mas também
as coisas em geral deixaram de fazer sentido. As coisas estão a adquirir um
sentido novo, mas nem sempre o novo é fiável, pois anda tudo empobrecido. Ontem ouvi alguém de inteligência
incontestável e muito influente eleger o Cristiano Ronaldo como figura do ano.
Acima dos Costas, dos Sócrates, do iluminadíssimo Papa, o melhor Relações
Públicas que uma igreja decadente e de consciência pesada podia ter contratado.
Sobretudo, acima dos que trabalham desinteressadamente na expansão da consciência
humana e por tal motivo, pagam o preço da sua inconveniência.
Nada, ou
quase nada, faz muito sentido. Mas ainda sou eu, acho. Este é só um momento
mau, digo-me. Nem consigo sentir que faço anos, um dia tradicionalmente alegre,
em que estas almas com quem partilho a minha passageira residência na Terra me
mimam sempre e me fazem sentir que a minha vida é verdadeiramente especial para
elas.
É assim que
me sinto e não me apetece transmutar nada. Pela primeira vez, possivelmente, estou
a viver quase só o momento presente, não me são permitidas projecções
brilhantemente transformadoras da realidade, vou fazendo de cada pequeno passo,
todos os dias, o centro da minha vida.
Ainda
assim, tenho de reconhecer que a flor dos cardos é deslumbrante pois, quando se nos revela, afigura-se-nos um sentido não revelado para o caminho duro.
Many returns of the day! E que os cardos nunca deixem de florir...
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