Atravessamos o vale das sombras, eu e ele, de joelhos percorremos as veredas
onde a vida já não corre e por onde chegaremos ao unico possível caminho
enlutado do futuro.
Sei agora
que já não há mais nada para salvar, a vida e a morte movem-se abraçadas e as
trevas adensam-se.
Vão-se
apagando todas as luzes no teu cérebro
de circuitos queimados, uma a uma esfumam-se, reminiscentes de poema moribundo, como
campo de flores que tristemente chega ao fim.
A vida já
não corre, o compasso de espera é um insuportável monumento ao absurdo, eu e tu
ancorados na agonia do sem sentido.
Contudo, há
que prosseguir. As horas soam num cântico mudo porque tudo é tão triste, sabias
tantas coisas, alcançavas num ápice um sentido oculto da vida e agoras perdes-te desnorteado, entre a
patetice e a insanidade, viajante involuntário de um labirinto cuja existência
determinaste com as tuas opções.
Os meus
olhos seguem o rastro dos passos que não deste em prol da tua essência, os meus
olhos-espelho de um gigantesco lago lacrimal, requiem de sonhos derrubados pela
conspiração da vida que se não cumpriu.
Estou aqui,
sou contigo, por opção. Poderia entregar-te a cuidados alheios, mas quem seria
capaz de entender a súplica estrangulada, ambivalente, que o teu ser emite, a
pedir vida e a pedir morte, numa agonia prolongada, onde conseguir o afecto das
entranhas que o teu ser requer para uma pequena acalmia? Quem passaria a mão
calorosa pela tua fronte transpirada, os olhos baços a recuarem para dentro de
uma coisa que não sei definir mas que me amedronta?
Perante a desintegração, quisera ser muito mais mulher alquímica, atrair magicamente a vibração dos céus para o teu coração prostrado de inquietudes, restablecer a ordem nessa mente à beira do abismo, embarcar em mais uma das mil viagens que juntos fizemos durante a vida, mas desta vez ao núcleo do teu ser essencial. Suspeito, contudo, que esses são impulsos românticos, ancorados numa crença ultrapassada de varinhas mágicas e anjos salvadores.
Perante a desintegração, quisera ser muito mais mulher alquímica, atrair magicamente a vibração dos céus para o teu coração prostrado de inquietudes, restablecer a ordem nessa mente à beira do abismo, embarcar em mais uma das mil viagens que juntos fizemos durante a vida, mas desta vez ao núcleo do teu ser essencial. Suspeito, contudo, que esses são impulsos românticos, ancorados numa crença ultrapassada de varinhas mágicas e anjos salvadores.
Tudo quanto
posso é acompanhar-te humildemente, aprendiza à força da minha própria
imperfeição, da patética insuficiência do que consigo ser ante o terror dos
precipícios que te assaltam. E sigo-te e amparo-te a sentir-me na perigosa linha
da exaustão profunda, sem saber qual a cor da minha coragem e se é coragem, no
final das contas.
Até que
tudo se apague e te tranformes em cinza, húmus, depois em ramo, outra vez em
flor efémera…
Quadro: Monserrat Gudiol
Quadro: Monserrat Gudiol
"Tudo quanto posso é acompanhar-te humildemente, aprendiza à força da minha própria imperfeição, da patética insuficiência do que consigo ser ante o terror dos precipícios que te assaltam. E sigo-te e amparo-te a sentir-me na perigosa linha da exaustão profunda, sem saber qual a cor da minha coragem e se é coragem, no final das contas"...ou a incondicionalidade do Amor, feito das sete cores do arco-íris que em reUnião toca o Branco. F.L.
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