Passei
há pouco tempo por uma experiência que me leva a reflectir sobre o andar dos
tempos.
Fui
convidada por uma pequena rádio regional para ser entrevistada sobre a poesia,
o amor, o estado do mundo para um programa de domingo.
Um pouco
às cegas – e porque tinha assumido o compromisso uns meses antes - lá fui, numa
manhã ensolarada de fim de verão e sem saber o que me esperava, ao encontro das
pessoas que amavelmente me haviam convidado. Durante três horas, vivi com a
responsável pelo programa e dois colaboradores a extraordinária aventura de falar livremente
na rádio sobre temas que são próximos ao meu coração – a emergência do feminino
no mundo, a mudança de paradigmas a instalar-se em todas as áreas da existência
humana, arte, criatividade, o regresso ao natural. Tudo entremeado com chamadas
de ouvintes que também declamavam a sua poesia e mostravam apreço pelo que se
estava ali a discutir. Sem censuras, nem edições. Em directo.
Gosto
muito de rádio, um meio que não nos monopoliza e nos permite continuar com as
nossas tarefas, enquanto escutamos o que a telefonia nos oferece. Mas em
nenhuma das estações de rádio a nível nacional ouvi alguma vez um programa com
as características deste, muito menos com três horas de duração.
São a
política, o futebol, as coscuvilhices e a música da moda – tudo distracções ao
que deveria ser o foco principal da nossa vida – que ocupam as transmissões
radiofónicas.
Então o
que é que este episódio me diz sobre o caminho do mundo? Muito simples: o
esperado não é o que vai acontecer.
As
histórias que nos contaram, desde as revoluções industriais, passando actualmente
pela tecnológica, não vão encontrar correspondência na alteração dos
paradigmas. Os ventos de verdadeira mudança virão dos lugares e das pessoas
mais improváveis, porque não demasiado comprometidos com os credos de um
sistema assente na separatividade dos seres, na competição e no lucro a
qualquer preço.
Precisamos
de novas histórias, novos mitos que nos permitam recuperar a inocência perdida e
em simultâneo trabalhar na construção do conhecimento, processo para o qual não
há atalhos e que é indispensável à saudável residência no planeta.
Ocorrências
como o programa de rádio regional que se debruça sobre coisas essenciais à vida
e dá espaço para que falemos longamente sobre elas, gestos solidários que vejo
irromperem espontâneamente por todos os lados em especial nestas alturas de
crise, o foco renovado sobre o que tinhamos por garantido e a que nunca prestámos
a devida atenção, as implicações da crise ecológica actual e que nos desperta à força para o respeito devido a tudo quanto vive à face da Terra, em suma, a nossa
humanidade que temos de resgatar da longa noite de um ilusório progresso são o
mote para a tentativa de começar de novo, de forma mais autêntica e conectada
com o todo.
Ola Mariana. Muito obrigado pela sua partilha. é bom perceber o quão importante foi para si esta experiência. Porque ao afirma-lo convida-nos a nós, quem realiza este programa, a dar sentido e significado aquilo que fazemos. Contamos também consigo de agora em diante sempre que nos puder ajudar nesta imensa cruzada de desbravar consciências neste ainda Alentejo endurecido. Um forte, terno e eterno abraço de Paz na Paz de Cristo.
ResponderEliminarEm Deus
Ricardo Louro