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domingo, 9 de dezembro de 2012

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MIM EM MIM
(ao encontro das profundezas)


Como seria se nada disto - deveres, trabalho compras  falta de horas para dormir, gente pesada a arrastar insonscientemente o peso do mundo nos ombros arqueados sugando alívio à passagem – me entravasse o passo e eu pudesse movimentar-me solitária e sem interrupções pela costa fina da noite misteriosa, livre de amarras, ao encontro das vozes que me habitam e de um inquietante imaginário que, de tanto aguardar, ameaça sublevação?


Não dá sequer para fantasiar já que me falta o tempo para tal, mas neste momento clandestino arrancado à punitiva obrigatoriedade dos dias é-me permitido espraiar-me por segundos  na espuma cintilante de um passageiro  alívio e escapar-me para fora da gaiola segura da vida oficial. Ao teu encontro, sigo, mulher da alma vibrante e dos tenros núcleos, mulher-criança acocorada por detrás das máscaras da persona, todas elas necessárias, parece-me, todas tão dispensáveis, talvez. Sinto-a uma alma antiga, recorrente no esforço de se fazer ouvir, de tornar credível um canto deslembrado oriundo de um porto inexistente para os detectores tecnológicos. A fortaleza desconhecida, aplicável sem esforço noutras frequências, sofre aqui os testes da dualidade, reprime-se, empurrada sem dó para o depósito da reserva pessoal a utilizar quando sine qua non.
Quando te entrevejo. Mulher, não te quero mais largar. È como se fora de ti não existisse mais ar, nem luz ou sentido para a vida. De ti depende a pulsão saudável do tempo a que alguns chamam a verdade, em ti se prendem todos os meus encantamentos e a única grande esperança de eternidade.
Seduz-me, agarra-me, preenche os espaços intersticiais do meu corpo cansado com o mel dos teus olhos e esse sussurro que cheira a plantas frescas, a terra revolta, mar salgado, aves nocturnas, beleza feita tudo, sem fim, sem fim…

Cheguei à hora final.
De ti, e só de ti, dependerá o amanhã.
Fiat voluntas mea, sed maxime fiat voluntas tua.

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