A
SOMBRA E O SÍMBOLO
“…cada coisa neste mundo não é porventura
senão a sombra e o símbolo de uma coisa.”
FERNANDO PESSOA
O
simbolismo de factos, objectos, padrões repetitivos, oportunidades e
desventuras na vida das pessoas pode ser um dos melhores indicadores de quem se
é e para onde se vai. Para tal, é preciso, claro, saber ler o caracter
simbólico de tudo, essa “sombra de uma coisa” a que Pessoa alude.
Olho em meu
redor e sinto-me (umas vezes mais outras menos) naquilo que
criei, nos laços desenvolvidos, nos sonhos ainda sustentados malgré tout.
Ah, as
invisíveis paredes dos impedimentos a
imprimir desvios obrigatórios no caminho que se idealizara outro, ah os
inesperados milagres, os abra cadabra para o maravilhoso que só acontecem,
diz-se, aos que “nascem com uma estrela na testa”, ah as forças de dentro e as
de fora mescladas num todo inextricável a que não estamos suficientemente atentos e que acaba por nos sufocar
diariamente em angústias e adiamentos da nossa desejável auto-revelação.
Aqui estou,
sentada face ao meu potencial, algo consciente de recursos desconhecidos e não utilizados, a remoer esta angustiazinha
a que quero dar nome, sem o conseguir. Onde começa e acaba o meu poder de
decidir? O que foi que não fiz que me cabia fazer no momento que não detectei e
que era a chave para outras vias mais próximas do centro tenro onde dança a
essência do que me foi destinado?
Que forças
são estas que me deixam entrever o rosto do sonho, mas logo erguem tabiques
cerrados ao meu passo, que espalham luas azuis num céu inalcançado, no gesto
que se não completa, na palavra fecunda, escoante de seivas e interioridades
várias mas fugidia, esvoaçante nos éteres sem que me deixem assentá-la no
papel?
Sem que me
deixem…O que é que me não deixa,, afinal,? O que é que cerra cruelmente as
janelas para o sol que a minha alma busca, persistente entre convulsões e
ventos desacertados? Quem me envia os símbolos da minha inépcia ou planta
flores de esperança nos meus dias pendulares entre o passo atrás e o avanço
encorajante?
Habituo-me
cada vez mais a olhar outra e outra vez as sombras dançantes na minha jornada, torna-se crucial tentar extrair da sombra que passa o símbolo do
que ela me quer apontar. E às vezes parece quase lá chego, revelação iminente,
véu que se levanta enfim. Mas o jogo vai ainda na infância, tem que crescer a
expensas minhas.
Que a
sombra não passe sem ser vista, que o jogo não seja em vão, que a roda
gire e o padrão actuante entre vívido na
minha consciência. Tudo a quanto aspiro.
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