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domingo, 9 de setembro de 2012


ANNA KARENINA
- a actualidade do romance de Tosltoi

Ter mergulhado de novo no romance de Tolstoi pela mão de Joe Wright, para além de me ter dado acesso a uma acabadíssima obra de arte, levou-me de novo à habitual reflexão sobre o desastre brutal que mudanças radicais de cariz sentimental na vida já estrututrada das pessoas vem a causar em geral. Se a resposta adequada (sob a forma da mudança necessária) ao sentimento avassalador do Amor se apresenta completamente legítima, já a sua realização efectiva se reveste de complicações inesperadas que, ao afectarem  entre outros aspectos o corpo emocional dos seres envolvidos, pode levar a grandes desastres pessoais.
Sendo os impulsos do Amor genuino incontornáveis, para além do corajoso mas desastrado caminho escolhido por Anna Karenina,  resta a quem os experimenta optar por uma das vias seguintes: ou bem que se decide a abafar no fundo de si mesmo o sentimento em questão (com consequências imprevisíveis, desde doenças inexplicáveis a “terapias de substituição” em geral desviantes do caminho próprio) ou opta por assumir para si mesmo esse sentimento e tenta encaixar na sua realidade a manifestação possível do mesmo.
Qualquer das opções implica sofrimento e desastre, em maior ou menor grau, pelo estado em que a humanidade ainda se encontra. Corpos emocionais altamente vulneráveis e o poderoso portal a que a vida sexual dá acesso, resultam em geral num turbilhão algo violento que acaba por afectar sériamente, de um modo ou doutro, as partes envolvidas.
As mulheres em especial, pela maternidade e ainda fraca autonomia económica (quando existe) são muito vulneráveis a estas mudanças e as primeiras vítimas dos seus actos. Por outro lado, a forma como até hoje estruturámos a vida social e familiar, levanta frequentemente questões do foro moral difíceis de resolver.

Por mais paradoxal que isso se apresente, lucidez e discernimento são imprescindíveis num processo abrasador como é o do Amor sentimental inesperado, irresistível e compensador em si mesmo como nada mais, muitas vezes surgido numa esquina da nossa vida quando compromissos profundos já haviam sido assumidos. Pois não será absurdo que a glória do Amor experimentado pelos personagens centrais de Tolstoi (em especial quando abrilhantada pela corajosa opção de Anna Karenina) se veja coroada de derrota e trevas pela decadência  e suicídio da heroína e consequente abandono involuntário dos seus dois filhos, pelo sofrimento e solidão do marido, um homem bom e justo que continua a amá-la para além da morte?

Sabe-se pouco, sofre-se muito. É tempo ainda de  aprendizagem…

A resposta para uma via alternativa às apresentadas, parece só poder vir do poder desconhecido do Espírito, numa entrega confiante ao fluir da Vida.

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