ANNA
KARENINA
- a
actualidade do romance de Tosltoi
Ter
mergulhado de novo no romance de Tolstoi pela mão de Joe Wright, para além de
me ter dado acesso a uma acabadíssima obra de arte, levou-me de novo à habitual
reflexão sobre o desastre brutal que mudanças radicais de cariz sentimental na
vida já estrututrada das pessoas vem a causar em geral. Se a resposta adequada
(sob a forma da mudança necessária) ao sentimento avassalador do Amor se
apresenta completamente legítima, já a sua realização efectiva se reveste de
complicações inesperadas que, ao afectarem entre outros aspectos o corpo emocional dos
seres envolvidos, pode levar a grandes desastres pessoais.
Sendo
os impulsos do Amor genuino incontornáveis, para além do corajoso mas
desastrado caminho escolhido por Anna Karenina,
resta a quem os experimenta optar por uma das vias seguintes: ou bem que
se decide a abafar no fundo de si mesmo o sentimento em questão (com
consequências imprevisíveis, desde doenças inexplicáveis a “terapias de
substituição” em geral desviantes do caminho próprio) ou opta por assumir para
si mesmo esse sentimento e tenta encaixar na sua realidade a manifestação
possível do mesmo.
Qualquer
das opções implica sofrimento e desastre, em maior ou menor grau, pelo estado em
que a humanidade ainda se encontra. Corpos emocionais altamente vulneráveis e o
poderoso portal a que a vida sexual dá acesso, resultam em geral num turbilhão
algo violento que acaba por afectar sériamente, de um modo ou doutro, as partes
envolvidas.
As
mulheres em especial, pela maternidade e ainda fraca autonomia económica
(quando existe) são muito vulneráveis a estas mudanças e as primeiras vítimas
dos seus actos. Por outro lado, a forma como até hoje estruturámos a vida
social e familiar, levanta frequentemente questões do foro moral difíceis de
resolver.
Por
mais paradoxal que isso se apresente, lucidez e discernimento são
imprescindíveis num processo abrasador como é o do Amor sentimental inesperado,
irresistível e compensador em si mesmo como nada mais, muitas vezes surgido
numa esquina da nossa vida quando compromissos profundos já haviam sido
assumidos. Pois não será absurdo que a glória do Amor experimentado pelos
personagens centrais de Tolstoi (em especial quando abrilhantada pela corajosa
opção de Anna Karenina) se veja coroada de derrota e trevas pela
decadência e suicídio da heroína e
consequente abandono involuntário dos seus dois filhos, pelo sofrimento e
solidão do marido, um homem bom e justo que continua a amá-la para além da
morte?
Sabe-se
pouco, sofre-se muito. É tempo ainda de
aprendizagem…
A
resposta para uma via alternativa às apresentadas, parece só poder vir do poder
desconhecido do Espírito, numa entrega confiante ao fluir da Vida.
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