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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

PARÁBOLAS

 Com palavras amo, escreveu o poeta. Com palavras canto, danço fantásticos passos de criação,  encontro as matizes secretas das coisas, apalpo ao de leve o pulsar profundo da vida. Com palavras subo à nota mais vibrante da oração, rasgo janelas sobre mundos esquivos, apaziguo as minhas ânsias e dou rosto ao indizível, por momentos deusa efémera do Verbo.
Escritas como se de fonte eterna elas brotassem, as palavras esculpem as minhas horas e aí deixam o rastro do choro ou do êxtase, soluçantes e mágicas, testemunho da passagem.

Com palavras me descubro e me revejo, sem saber que sou aquilo que as palavras me dizem que eu sou. Com palavras amo, sim, e com palavras mato. Exorciso, exerço a tentadora prática da sedução, reponho a verdade e construo a mentira da ilusão. As palavras doces, as intensas, as profundas, as orgásticas. As duras, certeiramente mortais, as ditas palavras de agape e de luz bem como as suas sombrias companheiras do desamor.
Com palavras incito, inspiro, embelezo, castigo, reduzo a cinzas, faço os meus lutos, apoio o outro, lanço no ar perfumes de coisas por saber ou relembrar, invento eternidades no que já passou ou nunca foi. Com  palavras sou maior, sou mais eu e deixo de ser quem sou pois elas transcendem os meus limites conhecidos, ponte entre mim e Eu e mais alguma coisa que não sei o que é mas que vibra em contínuo, inalcançável quase sempre na latência dos dias.

Faço tantas coisas com palavras,  refaço-me a mim e, de cada vez, abrem-se inesperadas brechas para o que eu já era sem o saber. Com palavras eu descubro outras palavras dentro delas, mundos, intermundos, sinapses de um todo incompreensível, estonteante.
Serão parábolas, afinal, formas de me representar e ao fogo que me anima, instrumentos de construção/destruição, assentes num núcleo mórfico e periferias dançantes, laços precários com a eternidade.

Com palavras escrevo, respiro. Não sei o que são, donde vêm, mas habitam-me, poderosamente emotivas e transformadoras e nelas me celebro, no fugaz instante que passa.

2 comentários:

  1. Simplesmente a divina deusa se apoderou de você Mariana Inverno! Muito belo teu poema tua alma que dança! Compartilhei. Abraço poético, marcia campos

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  2. Bem haja, Márcia!
    É para mim muito importante o "feedback" dos amigos, pois sempre desejei concentrar-me na escrita de forma mais profissional (escrever é aquilo que mais gosto de fazer)e o vosso estímulo dá~-me força! Obrigada por divulgar, amiga. Um abraço prenho de sorrisos
    Mariana

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