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domingo, 2 de outubro de 2011

DOS DIAS INCOLORES

Instalou-se nela um grande silêncio.
Aos poucos, fora-se afastando dos certos, dos correctos, dos virtuosos, dos superiores, dos que vêm mais, dos que conhecem, propagam, divulgam, estão acima...
Apartara-se do que parecia amor mas não era, do que se chamava cumplicidade e era só interesseirismo ou vazio ou qualquer coisa do género, das suas próprias ilusões àcerca de si mesma versus os outros, distanciara-se de tudo e agora tudo via através de um véu incolor mas efectivo.
Guardava as memórias do como se deve proceder e buscava cumprir. Era tudo.
Segurava a mão da mãe velhinha e sofredora, tocavam-na muito ainda as lembranças do seu empenho nela e nos irmãos, os desvelos, incondicional apoio. Tiveram a sorte de a ter tido, nunca haveria flores suficientes para a celebrar.. chorava por dentro a velhice, a incapacidade, a dor da impotência. Ainda o olhar sobre quem sofre, o gesto ainda, a partilha, tudo em câmara lenta, como num filme antigo.
Distanciara-se tanto de quase tudo e todos que bem poderia ser ela a partir e não a velhinha. Pois só o amor dá sentido à vida, só o toque das almas, a infinita compaixão, o gesto dos afectos... velas na noite escura da passagem por este ermo de incompreensões e simulacros.
Estranha a si mesma, marejada de lágrimas, algo em si persistentemente estupefacto perante a inverdade.

2 comentários:

  1. Arrepiei.me.....e nao foi de frio... :)...um forte abraço <3

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  2. "Pois só o amor dá sentido à vida, só o toque das almas, a infinita compaixão, o gesto dos afectos... velas na noite escura da passagem por este ermo de incompreensões e simulacros."

    Foi tão reconfortante ler o teu texto e sentir que, afinal, a minha alma não está sózinha...

    Excelente! Muito bom mesmo.

    Um beijinho

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