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terça-feira, 21 de junho de 2016

CIBERCULTURA




Não vale a pena negar, ela está aí: a cibercultura.
Aos saudosos do antigamente, da forma e do passo a que as coisas se faziam, aconselho, se não a tentativa de acompanhamento do processo, pelo menos o da sua aceitação, como “fait accomplis” sem aparente retorno a épocas anteriores. Os jovens, construtores do manhã, já nasceram  dentro destes novos valores e fontes de informação e parecem ter chegado a este mundo  apetrechados para lidar com a complexidade  de tecnologias implementadas com crescente celeridade. Esta relação entre as tecnologias de comunicação,  informação e cultura, onde a partilha dos valores do conhecimento acontece de forma muito mais democrática, está a gerar um mundo novo com características muito diferentes daquele em que muitos de nós receberam a sua formatação.
Há como que uma inteligência colectiva a que estão ligadas as inteligências individuais, que compartem e recebem informação  filtrada, adequada ao perfil e interesses do utilizador. Tudo isto se passa no ciberespaço e a cibercultura  ocupa hoje um lugar proeminente no processo educacional, tem dado origem a novos tipos de relacionamento social, incluindo o amoroso, e influenciado a profunda transformação do mundo dos negócios com a implementação do sistema de emails como a via de comunicação por excelência, aceleração dos contactos e o “business” online.  Todas estas alterações acarretam alterações radicais no nosso modo de vida e criam, nesta época de transição, grandes dificuldades de integração e de acompanhamento do passo dos dias aos seres emigrantes de outro tempo,  entre os quais me conto, em que se vivia, crescia, aprendia e se ganhava a vida de modo diverso.
A vinculação ao virtual tem vindo a transformar o ser humano em alguém mais solitário e silencioso, que a pouco e pouco vai perdendo o hábito da convivência presencial com as pessoas do seu núcleo e, com frequência, sofre de adição à net, ao facebook, ao tablet e ao iPhone, instrumentos sem os quais sente faltar-lhe o chão. A possibilidade de criar, sem custos, um espaço de expressão imediata que, potencialmente, pode ser visto por muita gente é outro dos grandes atractivos, pois permite a ilusão de um determinado protagonismo. Na realidade, a pobreza das contribuições individuais é evidente, limitando-se, na maioria dos casos aos famosos “like”. O contraditório praticamente não existe e, se acontece, é muitas vezes gratuito, em desvio da temática que deveria estar em debate, e corresponde a um falso diálogo entre surdos, mais preocupados com ideias obsessivas.
Em todas as mudanças tem de haver ajustes e, no assunto em análise, elas são monumentais. Não é esse, porém, o aspecto mais preocupante. O que realmente  torna anti natural esta viragem e adesão cega à tecnologia e ao relacionamento virtual é o que ela representa de afastamento progressivo da pessoa do seu centro espiritual e mental, a torna submissa e presa fácil da manipulação a que o conhecimento superficial, a notícia  distorcida ou fora de data e o sensacionalismo dão lugar.  A meu ver e muito pelo que observo na internet, são maiormente  as pessoas mais educadas, com maior grau de cultura e espiritualidade que trazem contribuições válidas a este vasto oceano de troca de informação. Pessoas que conservaram o seu olho critico, sabem questionar o que lhes é apresentado e articular o pensamento próprio. Pessoas, em geral, de uma faixa etária acima dos quarenta.
Esta realidade aponta, tristemente, para o controle cada vez mais acentuado da humanidade pela máquina. Aquilo que as religiões fizeram no passado, apesar de tudo conservando no ser humano o sentido da ligação à transcendência, é agora levado a cabo com maior eficiência e perversidade no ciberespaço.
Não teria de ser assim. A tecnologia só tem razão de ser se nos servir, e se, pelo apoio prestado aos nossos esforços de crescimento, contribuir para uma real evolução da humanidade. Para que tal ocorra, urge rever os nossos padrões comportamentais, hábitos, prioridades. Urge recolocar cada macaco no seu galho e restabelecer a conexão ao sagrado da vida que habita o subtil e não o virtual. Pois é do primeiro que devem sair  as linhas orientadoras do segundo.

Despertemos e exerçamos vigilância, enquanto há quem o saiba fazer. Alternativamente, resta-nos ter fé num deus "ex-machina"

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