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sexta-feira, 8 de abril de 2016

VOX ANIMAE


Nasci abençoada por uma saúde de ferro e uma  quase inesgotável capacidade de trabalho a vários níveis simultaneamente, sem me perder. Quando criança, os meus irmãos contraíam as maleitas comuns nessas idades mas eu ficava sempre imune e de fora. Após mais de seis décadas de vida, continuo a trabalhar arduamente todos os dias. Desconheço o que sejam horários rígidos de trabalho e tenho uma disponibilidade interior para empenhar continuamente o meu esforço na concretização do que se me apresenta para fazer – sempre muito.
Sinto-me cansada, é certo, mas encontro em cada dia força renovada para prosseguir.
Há muitas e diferentes teorias que explicam a boa ou a má saúde de cada um. Prefiro não subscrever nenhuma, e fixar-me apenas naquilo que depende directamente da minha actuação aqui e agora.
O ano passado, em Janeiro, tive uma forte gripe que me afectou muito a garganta e, facto inédito, fiquei mais de duas semanas sem voz. Avessa a consultar médicos, vi-me obrigada nessa ocasião a fazê-lo a nivel da especialidade e, lentamente, lá fui recuperando a voz e consegui curar as cordas vocais que tinham chegado a apresentar uma situação pré-poliposa. Este ano, após um inverno sem incidentes (não me constipei), sentia-me mais segura e no controle da situação.
Pois, há dois dias, caí de novo. Com os sintomas de  gripe, que ataquei de imediato, a voz “adoeceu” outra vez. Não se foi, mas está muito alterada e devo evitar falar.
Está nitidamente instalada em mim uma vulnerabilidade a este nível e tenho de trabalhar interiormente no tema, pois não creio que sejam os antibióticos ou os anti-inflamatórios que me venham a resolver o problema.
Creio saber a origem deste ponto fraco: a minha voz literária esperou demasiado tempo para se expressar e ainda não encontrou, na logística da minha vida, modo de o fazer como o meu impulso de alma me pede.
É verdade que cada um se torna naquilo que consegue ser, no contexto da sua vida e circunstãncias, batidos que somos pelos ventos da nossa origem social, da trama que se vai tecendo com o desenrolar da existência, dos factores externos ao nosso controle e dessa voz sempre presente, tantas vezes abafada, oriunda de um ponto impalpável mas latente em nós a que chamamos alma. Creio, no entanto, que a opressão anímica é a responsevel máxima pela patologia que tende a roubar-me a voz.

Tenho muito a reformular, sem dúvida, e vou fazê-lo.

Conto com a ajuda do Universo, através dos seus múltiplos agentes, para encontrar o caminho e consolidar essa mudança. Não tenho dúvida de que a “voz” precisa de sair, de se espraiar e reinventar no seu fluir, mas tenho de ser eu, de forma nuclear, a assegurar a emanação da minha alma.

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