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domingo, 25 de outubro de 2015

ARISTOCRACIA ESPIRITUAL

Tenho sido por vezes criticada por me assumir como crente convicta na aristocracia spiritual. Creio ser esta posição olhada com desconfiança, por se pensar que ela implica noções de hierarquia e superioridade social e material. Nada de mais erróneo.

Como em muitos outros casos, perdeu-se o sentido inicial da palavra “aristocracia”, a qual estava íntimamente ligada ao conceito de qualidade moral e intellectual no ser humano, sem levar em conta  a família de nascimento ou os meios de riqueza. Contudo, quando os  viscosos tentáculos dos interesses privados a tocaram, a palavra perdeu gradualmente a pureza original e confundiu-se com oligarquia, O resto é história.

Defendo a recuperação do conceito de aristocracia aplicado ao espírito e ao intelecto, É tempo de nos confrontarmos com o que nos rodeia pois a decadência acelerada  do meio social, dos valores morais e do exercício intellectual tem vindo a produzir uma humanidade esvaziada e robótica, ausente de si mesma, incapaz de fazer verdadeiras opções conscientes, dissociada por consequência do conceito fundamental de soberania pessoal.

Se estamos todos irmanados na nossa condição de seres aqui em manifestação no planeta Terra, também é verdade que nos encontramos em diferentes estádios de desenvolvimento espiritual e de inteligência e não há como iludir esse facto. Os arautos da Nova Era, entre outros, apregoam a teoria de que somos todos iguais, todos irmãos e conectados. Infelizmente, a conexão revela-se especialmente  na obsessiva ligação ao mundo virtual – as conversas pessoais perderam fôlego, mesmo até ao telefone. O texto (mal escrito e reduzido a escasso vocabulário) impera, mesmo entre pessoas de grande proximidade física.

FELIPPA LOBATO, Visão Ondulante,
tinta-da-china sobre tela, 2015
Quando falo de aristocracia espiritual, refiro-me ao esplendor do espírito, sabiamente interpretado por uma alma bem estruturada e a inconfundível marca que isso deixa na acção humana. Pois é pela grandeza comportamental que detecto essa aristocracia que tenho encontrado um pouco por todas as esferas do humano terrestre, sem distinção de classe social, nascimento, poder material ou nível de cultura e educação. Contudo, verifico que é sob a grande pressão da carência e da adversidade que esse imprint espiritual mais facilmente se revela.

Aos poucos, entre quedas e avanços, vai surgindo a génese de uma nova ordem de valores, que só poderá assentar na governance do lado feminino da humanidade, essa face criativa, maternal, solidária, generosa e temerária que a todos habita mas que encontra mais fácil expressão nas mulheres. Em consequência, a aristocracia espiritual a que me refiro ganhará cada vez maior relevância e poder actuante no âmbito do novo paradigma. Este ultimo promoverá, sem dúvida, o governo e a liderança dos melhores (os mais nobres, do ponto de vista espiritual).

Por agora, o tempo é de decadência. Tudo a ruir, importantes conquistas, erguidas sobre o sangue, suor e dor dos antepassados, em queda livre, ante a indiferença e o desrespeito gerais.
Quero crer que a memória da alma, contudo, há-de transpor os obstáculos do presente e levar mais além o traço nobre e a grandeza dos gestos, vindo a mandatar os melhores. Por via de quem não esquece.









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