Preciso de inventar uma palavra. Uma
palavra nova, fresca, arejada. Perpassada de música e calor humano. Uma palavra
táctil como uma pele quente, amistosa e envolvente. Um abraço.
Tem cor, sons alegres como o dos sinos
das igrejas antigas, de campanários altos e o cheiro cimentado do incenso.
Impõe-se a todas as outras, espécie de cântico dos cânticos, coroa majestosa de
um léxico desconhecido, ainda à espera de ser inventado. Vela colorida, beijo
amante, hino dos poetas, casa comunal, gáudio das crianças, há-de arder pela
noite dentro, dançante e mística, fogueira nas trevas, marca de alianças.
Preciso dessa palavra vindoura, despida
de mercantilismos, austera e ousada, portadora de afectos e consolos, corajosa
e gorda como as deusas primitivas. Uma palavra rubra, que cheire a canela e a cravinho,
saiba a mãos dadas e possa escancarar o coração da gente. Nova, bem cheirosa,
intocada. Uma palavra que soe como a voz do sol e me transmita o reflexo
prateado das estrelas, que cheire aos madeiros na praça pública mas me possa
conduzir, como amante calorosa, à maior interioridade.
Vem a mim, palavra de ouro, mensagem espacial,
palavra-chave das almas, verbo sentido, salvação de um mundo descompensado e
disfuncional. Vem e traz contigo a tua descida à matéria. Ágil e
espiritualizada, emblemática, sagrada, redentora, balsâmica, mãe da conciliação
e da paz, berço da harmonia, semente de esperança, barca para um amanhã na Luz.
Vem, apresenta-te com urgência. Emerge
desta farsa sem sentido onde nos perdemos cada ano, sem sabermos o porquê, o
para quê. Substitui-te de uma vez à patética, esvaziada, alienante e impostora
palavra Natal.
Sem comentários:
Enviar um comentário