Nem a palavra mais
pesada poderá significar o que sinto.
De qualquer modo, não a alcanço. As palavras, todas as palavras parecem ter
ficado entaladas no gargalo estreito da minha desesperança.
Lembro-me do poeta morto, reinventado em si mil vezes, a
arrastar em palavras mornas o extremo cansaço (Um
supremíssimo cansaço,/Íssimo, /íssimo,/ íssimo,/Cansaço…).
Talvez devesse querer
qualquer coisa mas o estranho é que eu, a mulher da vontade férrea e das mil
invenções, não quero nada. Não anseio por nada e tenho dificuldade em sonhar.
Minto, ainda quero
alguma coisa: que me deixem em paz, neste quarto refrigerado onde me alheio da
fornalha lá fora. Claro que não me deixam em paz e lá me forço uma, duas, mil
vezes ao dia, a cumprir os papéis que de mim são esperados.
Há um vazio, mas é um
vazio pesado, aterrador, parece que não há por onde se furar a espessa névoa…
Se ao menos viesses
ver-me, falar comigo, podia ser que a vibração da voz ou a tua escrita me
arrancassem deste estado que é nada mas que me abafa os sentimentos.
Mas, porquê te chamo?
Para quê se chama alguém se sabemos que isso é só adiamento do que temos de
enfrentar dentro de nós, e a solo.
Horror à voracidade
de qualquer tipo, ao ruído, ao destrambelhamento, confusões, aos estados febris,
ao inglório equívoco de nos etiquetarmos…
Como o Poeta,
cansada, infinitamente exausta de tudo, do nada, da impenetrabilidade dessa
névoa grossa que se cola a nós, ao ar que respiramos e nos retira o propósito.
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