Falo
busco o teu sorriso, sinal mínimo que seja de aprovação ou alento, persiste
aparente desinteresse , na rua tudo igual carros motas-chiadeiras campainha da porta telefone que não atendo,
maçada de desarrumação e tenho fome. Poder continuar a erguer desconstrução das
falácias mas…e se tu fores uma delas?
Ninguém
pode alhear-se do todo para sempre, precisa-se que nos digam qualquer coisa –
bom mau assim-assim odioso repelente sublime – a identidade é uma flor viva a
pedir rega.
Consolo
o teu lamento como posso, alegas desvantagens princípios tortuosos ADN e outras
paredes altas intransponíveis para a realização. Se renascidos a cada etapa
escapamos à auto-ilusão de transferir responsabilidades, pois, como foi que
não nos reformulámos e adaptámos às experiências vividas, ego escondido ausente
de férias encapotado dissimulações várias. O ego actor central na interacção
com o meio esgueira-se – ágil destreza atrás dos muitos papéis inventados a patinar sempre
sobre a culpa dos outros – cuidado com ele amante de teatro que nos
aparta do essencial. Cuidado com ele – a fazer sempre falta fornecedor de
referências valiosas para a compreensão do mundo.
Ah,
estamos feitos! Em geral, sim. Compulsão
fantasiosa auto-percepção da nossa incomparabilidade, narcisísmo individual ou comunal,
irresistível elistismo sempre a bater à porta ante a mediocridade geral. Raro
mesmo é o sentido integrado da nossa identidade, ego estável relacionamento
descomplicado com os outros, toalha da confiança básica estendida com brio sob
os altos e baixos da passagem.
Uns da
acção outros da contemplação mas há que nutrir q.b. a fonte da iniciativa, cada
ser com a sua, está-se no ponto quando a pacificação interior se instala de
vez, alegria não dependente da aprovação alheia, mas a fazer falta o feedback algo mais que os likes do facebook, visita à
interioridade do outro no amor possível.
Serei
eu…a falácia? Apropriadas as palavras conceitos livros palestras, donde vem
tudo isto se aqui dentro dorme ainda a crisálida, tudo incerto titubeante em
rascunho, esboço de sopro a querer
ganhar asas, o medo colado às comportas do ser aguarda a sua hora sempre
adiada.
Necessidade
mútua, verdade precisa-se, genuina antiga como a luz do princípio dos tempos
que o físico protuguês diz ter viajado mais velozmente que nos dias actuais.
Na rua
tudo igual, sol do meio dia sol do dia todo agora que há seca, dizem que é bom
olhar para o espelho contar as bençãos fazer listas planear a vida. Dizem
tantas coisas, vá-se lá saber…
Consolo
o teu lamento como posso, sem frete. Trazes marca distintiva, olho antigo alma
de poeta fogo circunscrito contudo, seria bom revermos a matéria, arrumar as
mágoas, assumir o enquinado. Seguir em frente que a hora é breve, não-lugar
não-tempo para escolhos ilusórios conversa fiada hipérboles do nosso
contentamento pequenino auto-contido miseravelmente explicado.
Precisamos
da rega para que a flor viva se revele num esplendor maior.
Quadro: Armen Kasparian
Quadro: Armen Kasparian
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