se te falasse das pequenas coisas que me assombram ficarias absorta na contemplação de um mundo que quase nunca vês e talvez daí colhesses a tal seiva húmida de que todos precisamos para ver...
vejo fealdade, rostos-esgar a passar em high speed no ar poluído da metrópole, vejo os olhos vibrantemente azuis de um bebé que num canto da cafetaria me olhava como se conhecesse de há milénios – cristais líquidos a desencantar memórias armazenadas algures no espaço akáshico – vejo as flores de fim de verão a desencadear corolas e corolas mântricas sobre o meu ser esfomeado...
canta na casa por muito tempo a água de um duche persistente na tentativa de limpeza daquele ser atormentado, o agressor chora passado o clímax da luta, para que foi tudo aquilo, não levou a nada, não valeu a pena, não vale as mágoas e o vazio...
a mulher-menina que já não é menina mas ainda não mulher apesar do avançado cronológico, segue auto-hipnotizada, a fingir que é quem não é e perde o útero, às vezes as mamas, finalmente a vida toda sem ter a coragem de olhar para dentro...
gritam, matam-se e esfolem, brandem armas em nome do único deus, dos direitos do povo, sujos, delinquentes, habitados pelo ódio, incapazes, incapazes - fios manipulatórios respiram de alívio...lá se foi mais um ditador que já não serve...
e eu e a minha pele suave, eu e os meus olhos de luz que os sinto assim sempre, eu quem sou por onde vou se é que vou por algum lado, aonde e quando colherei o meu prana, já que o tempo corre agora como a própria luz e se evade de mim como amante perseguido...
concentra-te em mim se puderes, busco-te para além do que sabes de ti mesma, alcanço-te por vezes no elusivo timbre da tua nota cósmica, aí me fundo no eterno abraço...
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