A
DEUSA NO JARDIM DAS HESPÉRIDES
Desvelando
a Dimensão Encoberta do Sagrado Feminino
no
Nosso Território
LUIZA
FRAZÃO, 2016, 286 páginas
No
momento em que comecei a ler esta obra, fui invadida por uma ressonância íntima
que bem conheço. E, à medida que fui avançando na leitura, confirmou-se o
sentimento e a emoção de estar perante o resultado de uma investigação a
camadas profundas, não desveladas, da
história da humanidade terrestre na qual o paradigma central do patriarcado,
vigente há milénios, infligiu feridas profundas, nomeadamente pela
masculinização, sob o ponto de vista cultural, social e religioso, dos traços e
indícios que o Sagrado Feminino imprimiu à sua passagem.
A
obra de Luiza Frazão é um muito importante livro de referências sob este ponto
de vista e restitui-nos um sentido de integralidade e de equilíbrio tão
necessários no contexto histórico em que vivemos. Na verdade, por todos os lados afloram à superfície da
vida ecos de uma outra ordem de valores, uma espécie de re-acordar de memórias
ocultas no fundo de psiques mutiladas que, ante a decadência profunda a que a vida na Terra chegou, buscam com
determinação alternativas mais saudáveis para o futuro. E a autora buscou na memorabilia natural, nos poucos
registos na pedra, nas tradições muitas vezes distorcidas e na mitologia, a recuperação de um sentido novo para a vida,
assente no amor pelo natural e descodificação dos seus códigos secretos, na
solidariedade, dádiva e compaixão, na paz e na abundância, na celebração da
vida e da morte como processo transformacional. As Hespérides do Jardim Dourado
que ela localiza no nosso território, representam, cada uma, aspectos
fundamentais do legado feminino, englobados na Deusa Cale (palavra que habita, segundo a autora, o étimo de Portugal), a qual a esta parte do
mundo preside.
“A
Deusa no Jardim das Hespérides” é um acto
imbuído de sinceridade e de busca determinada e paciente de uma verdade
maior, até hoje oculta da nossa consciência e, sobretudo, da formatação que nos
tem sido abusivamente imposta desde o dia em que nascemos. Um acto criativo e
estimulante, restaurador do feminino ancestral e do ritual na vida humana, um acto que merece toda a
nossa gratidão!
Mariana Inverno
Mariana Inverno
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