Ando vulnerável e confusa por estes dias.
O cansaço imenso não ajuda, a falta de interlocutores
válidos ainda menos. Alternativas para esta situação vejo-as escassas. Resta-me
a escrita, este misterioso meio de desbravamento interior, onde cabem todas as
perguntas e todas as respostas.
Tenho a escrita, mas pouco tempo para ela. E é essa a
ironia suprema de quem, agrilhoado no espaço fóbico do trabalho obrigatório
para a sobrevivência, mal pode virar os olhos na direcção da identificada brecha
para a luz. Comigo é a escrita, mas a quase toda a gente que eu conheço está
vedado o caminho conducente a uma espécie
de ogiva para a libertação.
Não quero, contudo, cair na armadilha da autovitimização.
São por demais insondáveis e misteriosas as causas do aprisionamento de cada um
e, na maioria dos casos, há que conseguir conquistar a pulso, com sangue suor e
lágrimas, os meios de emancipação da realidade castrante que nos cabe. O
processo passa pela atenção profunda, em primeiro lugar a si mesmo – emoções,
reacções, comportamentos e impulsos a serem implacavelmente escrutinados – e,
depois, aos inúmeros sinais que mapeiam o nosso caminho individual e colectivo.
A tarefa é gigantesca e a nossa energia, tão consumida
na luta do dia a dia, apresenta-se escassa para esse trabalho de fundo, sem o
qual ficamos presos na eterna roda de comportamentos e padrões de vida
cármicos.
GEORGE TOOKER |
A verdade é que identifiquei poucos desses seres durante
a minha passagem por aqui, mas o drama reside no facto de nem desses eu poder
em geral desfrutar, dado o carácter impositivo das amarras ao trabalho e às
responsabilidades.
Devo ter falhado em algo de fundamental, preciso de
rever tudo outra vez, com rigor e empenho, quero crer que da minha criatividade
há-de sair a chave que abrirá a porta para o amplexo que me falta.
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