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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O ABRAÇO QUE ME FALTA

Ando vulnerável e confusa por estes dias.
O cansaço imenso não ajuda, a falta de interlocutores válidos ainda menos. Alternativas para esta situação vejo-as escassas. Resta-me a escrita, este misterioso meio de desbravamento interior, onde cabem todas as perguntas e todas as respostas.


Tenho a escrita, mas pouco tempo para ela. E é essa a ironia suprema de quem, agrilhoado no espaço fóbico do trabalho obrigatório para a sobrevivência, mal pode virar os olhos na direcção da identificada brecha para a luz. Comigo é a escrita, mas a quase toda a gente que eu conheço está vedado o caminho conducente a uma espécie  de ogiva para a libertação.
Não quero, contudo, cair na armadilha da autovitimização. São por demais insondáveis e misteriosas as causas do aprisionamento de cada um e, na maioria dos casos, há que conseguir conquistar a pulso, com sangue suor e lágrimas, os meios de emancipação da realidade castrante que nos cabe. O processo passa pela atenção profunda, em primeiro lugar a si mesmo – emoções, reacções, comportamentos e impulsos a serem implacavelmente escrutinados – e, depois, aos inúmeros sinais que mapeiam o nosso caminho individual e colectivo.
A tarefa é gigantesca e a nossa energia, tão consumida na luta do dia a dia, apresenta-se escassa para esse trabalho de fundo, sem o qual ficamos presos na eterna roda de comportamentos e padrões de vida cármicos.

GEORGE TOOKER
É neste contexto da manifestação que sinto a falta deles. Dos seres de alma afim, dos que sentem em profundidade as palavras que escrevo, do seu abraço cálido e envolvente, do seu não julgamento. Da intimidade natural que entre nós se estabelece, da dádiva sem motivos ulteriores.
A verdade é que identifiquei poucos desses seres durante a minha passagem por aqui, mas o drama reside no facto de nem desses eu poder em geral desfrutar, dado o carácter impositivo das amarras ao trabalho e às responsabilidades.

Devo ter falhado em algo de fundamental, preciso de rever tudo outra vez, com rigor e empenho, quero crer que da minha criatividade há-de sair a chave que abrirá a porta para o amplexo que me falta.

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