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sábado, 20 de abril de 2019

SÁBADO DE ALELUIA

Da Vinci


Sábado de Aleluia.                                                                               Mergulho na ideia de um merecido descanso. Com coisas a fazer, mas são daquelas que gosto... escolher poemas para uma récita, escrevinhar  sobre a escuta dos murmúrios interiores, arranjar flores...coisas que relaxam e me trazem um delicioso sentir de cumprimento.
Karin Leonard
Floriram os narcisos, distribuem-se amêndoas e folares. Este é o lado simpático do momento que passa. Mas as notícias lembram que morreram quase trinta turistas alemães na Pérola do Atlântico, aquela jovem e promissora jornalista de sorriso aberto foi ceifada por uma bala perdida em Londonderry, o tecto de uma igreja na África do Sul matou umas dezenas ao desabar sobre os fiéis durante um serviço religioso. A Líbia está novamente à beira de uma guerra civil e ainda se vislumbra, no horizonte da nossa memória, o negro dos fumos em Notre Dame. Trump continua a reinar, impune, do alto da sua arrogante e patológica condição, o populismo avança por toda a parte. Mais todas as coisas de que ninguém fala, ou se fala pouco, porque são histórias distantes, gente que não conhecemos, mundos diferentes do nosso.
O ar por aqui cheira a terra molhada, após as chuvas da noite – parece que o tempo  vai melhorar substancialmente nos próximos dias – e sinto uma necessidade enorme de me concentrar nas ditas coisas simples da vida, no dia a dia, sem grandes filosofias. As colaboradoras do monte andam atarefadas com a matança dos borregos e  a celebração da Páscoa e, pela primeira vez na vida, estou sozinha, na Casa Grande, nesta quadra. Sozinha, com o meu doente.
Houve sempre um fio condutor da continuidade na minha vida, mas no presente sinto que entrei numa espécie de outra encarnação. Desapareceram os aliados de outrora, não há vivalma em redor. Desdramatizo, pois há um lado bom em tudo isto: a casa respira serena o silêncio que se instalou ou, então, é percorrida pela música que elejo; está tudo arrumado, não tenho que trabalhar horas a fio na cozinha para alimentar uma família que nunca mais acaba. A vida ensina-me a aceitação das mudanças bruscas e, após o vale de lágrimas inicial, está tudo muito mais aquietado dentro de mim.


Da Vinci
Sábado de Aleluia! Um bom dia para pensar nas pequenas vitórias, escrevinhar coisas pouco importantes, arrumar gavetas, colher flores pois estamos no tempo inebriante da primeira floração das rosas, passar um olhar brando e compassivo sobre os pequenos dramas pessoais.
Ainda por cá ando, residente na Terra ensombrada pela humanidade a que pertenço, ainda me esperam poemas na curva dos dias.  Talvez novas coisas a fazer, coisas afins ao molde que a minha alma tanto quer imprimir aos dias.                                                              Talvez, quem sabe, um, a estas alturas,  improvável renascimento.