Ter
hoje apenas ecos da força estranha que um dia, avassaladora, me percorreu as
células, as físicas e as outras, e me ligou ao coração da vida…
Passaram
luas sobre luas, o tempo cavou sulcos fundos na pele da alma da gente, restaram
folhas ensanguentadas à deriva no arco maior dos sonhos incompletos, do canto
que se não fez ouvir…
Quem
me poderá levar para além da minha dor, senão eu mesma? Quem irá desmascarar as
transferências, as projecções, as dependências, o amar sobretudo o amor que
outrém sente por nós?
Quem
resgatará a tua alma, quando o portal se abrir e os mil coros do mundo
encoberto te lembrarem a grandeza que
mantiveste velada, porque a prova parece ter ido longe demais?
Papéis
inexactos, entradas em cena fora do tempo adequado, o destino titubeia palavras
imprecisas no quente vento estival, somos náufragos de um barco que um dia
partiu enlouquecido de amor, mas de casco já furado,,,
Entrar
no vazio com coragem, embora o chão nos escape e a tentação de olhar para
trás lance fogos fátuos na escuridão dos
equívocos e dos arrependimentos…
Não
há nada à nossa espera senão aquilo que já somos, súmula do que vivemos ou não
vivemos, pássaros nocturnos de asa quebrada, vulneráveis no ar e em terra, filhos
de um quase, em breve só memória…
Mas
tu és quem eu sei que és. Talvez que eu não seja quem dizes eu ser.
Tempo
da verdade.
Mariana
Inverno, NOTAS À SOMBRA DOS TEMPOS
Litografia: Montserrat Gudiol
Litografia: Montserrat Gudiol
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