Sweet
flowers alone can say what passion fears revealing.
THOMAS HOOD (1799-1845)
Há
dias, um conhecido intelectual da nossa praça, meu amigável conhecido em
tempos, comentava publicamente que as
flores o inquietam porque não comunicam.
Acho que não tinha ouvido nunca alguém dizer tal coisa, pelo que retive
a afirmação e fiquei eu, por minha vez, algo inquieta, a reflectir sobre a
questão.
Se
há companhia que me conforte na densidade em que nos movemos, é com certeza a
das flores e a do reino vegetal no seu todo. Talvez porque estavam no planeta
muito antes da minha espécie o habitar e são com certeza repositório de uma
sabedoria que estou longe de possuir. Firmemente enraizadas na terra-mãe, as
plantas e as árvores erguem-se para o cosmos, convivem corajosamente com os
elementos e povoam as nossas vidas de cor, graça , senhoras de uma estética
incomparável e, na nossa cultura, acompanhantes inseparáveis de momentos
importantes das nossas vidas. Casamentos, funerais,
nascimentos,
namoros, agradecimentos de toda a ordem. Nenhum evento social as dispensa. Eu
também não.
Há
dias, comovi-me, ao deparar-me com uma avenida inteira de jacarandás floridos a
erguerem aos céus a mancha intensamente azul da suas flores com que atapetavam
também o caminho por onde eu passava. Belo, sem dúvida, mas vá-se lá saber a profunda
e misteriosa razão para as minhas lágrimas.
Preciso
da companhia das flores no dia a dia, em cada momento, a sua presença
luxuriante e em profusão nas casas que habito e no jardim dá-me confiança e empresta
ao meu ambiente algo de vital que me faz sentir rica e abundante, no sentido
mais puro que a expressão possa ter. Recurso emocional, portadoras de uma
linguagem simbólica complementar das minhas palavras e dos meus actos, as
flores, desde sempre presents nas mitologias e nas relgiões, tornaram-se uma
extensão do que aqui e agora manifesto. Quando duas mulheres amadas faleceram,
encontrei alívio e conforto espiritual enchendo o caixão de rosas, e foi com
uma que acariciei pela última vez o rosto sem vida da minha amada Mãe, momentos
antes do féretro ser depositado na sua última morada. Ocorreu nesse instante um
poderoso e indizível mistério, um amplexo de amor que nada poderá jamais
quebrar.
Com
flores digo muito do que as palavras não alcançam. Isso vem acontecendo desde
há milhares de anos e tal já ressalta no celebrado “Cântico dos Cânticos”.
Também Shakespeare conferiu um significado emblemático às flores na obra-prima Hamlet, Prince of Denmark, pois a heroína Ofélia refere o significado
simbólico de várias flores.
Esta
linguagem, também conhecida como floriografia, foi mais tarde desenvolvida e
cultivada pelos vitorianos, após ter sido trazida da luz de Constantinopla por
Lady Mary Wortley Montagu, em princípios do século XVIII.*
Assim,
é razoavelmente bem conhecido o simbolismo das flores e como ele nos assiste
nos nossos esforços de comunicação.
Creio, contudo, que o que inquieta e intriga o meu amigo é a aparente inacessibilidade de uma linguagem poderosa, existente a níveis vibratórios que a sensibilidade pode reconhecer mas que a razão não consegue explicar. É esse o caso de muita coisa na nossa existência. No das flores, fomos associando a cor e características a sentimentos humanos e criámos toda uma correspondência.
Creio, contudo, que o que inquieta e intriga o meu amigo é a aparente inacessibilidade de uma linguagem poderosa, existente a níveis vibratórios que a sensibilidade pode reconhecer mas que a razão não consegue explicar. É esse o caso de muita coisa na nossa existência. No das flores, fomos associando a cor e características a sentimentos humanos e criámos toda uma correspondência.
Algo
me diz, contudo, que a linguagem encriptada das pantas é outra…
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* A primeira obra publicada dedicada às
flores parece ter sido o Dictionnaire du language des fleurs, de joseph hammer-purgstall, em 1809, mas a
mais antiga e obra de referência sobre o tema é La langage des Fleurs (1819)
de Madame Charlotte de la
Tour, pseudónimo de Louise Cortambert.
Quadros: GEORGIA O'KEEFE
Onde posso encontrar esse livro para comprar? De M. Charlotte em português
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