Cansei-me de dizer sempre o mesmo, como se morássemos todos numa
avenida ajardinada, com casinhas de bonecas de ambos os lados e dentro delas se
confundissem o louro brilho do champanhe com o das pratas, a música adequada à
“passagem de ano”, os vestidos de lamé e os abraços e os beijos, perfumados de
vapores etílicos, que é costume trocar à meia-noite.
Cansei-me porque me cansa tudo o que é repetitivo,
inquestionado, convencional, mentiroso, decidi seguir a inspiração do Don Juan
de Castaneda e desistir dos caminhos que não têm coração. Vai adiantada a hora
na minha vida, há cada vez menos lugar
nela para os embustes, mesmo os que me foram inculcados desde a meninice.
Perdoem-me por isso se vos não deixo palavras grandiloquentes,
plenas de bênçãos e votos de euromilhões para todos. Seria uma farsa, pois o
mundo ruge de dor e desvarios, a insanidade está instalada ao mais alto nível e
a Vida pede-nos a gritos que subamos uma oitava na consciência para melhor
compreender o que se está a passar e, assim, possamos elevar-nos acima das
distracções que nos controlam.
Cansei-me, não de celebrar a Vida, mas de celebrar a morte em vida, que é o que a alienação dos finais de ano, por exemplo, representa. Trata-se de uma mera convenção, desconvencionável a qualquer momento, sobretudo transformável por forma a gerar mais lucro.
Perdoem-me se vos estrago a festa, perdoem-me a falta de
glamour, a impertinência e a austeridade. É por vos desejar todos os dias da
minha vida, Paz, Saúde e uma Consciência
mais apurada. Tal como o faço hoje, com o calendário a marcar 1 de Janeiro de
2018!
Que bela reflexão! Impactante...
ResponderEliminarGrata, Maria!
ResponderEliminartão pertinente, querida Mariana... assim sinto! Paz, Saúde e Consciência... hoje... e sempre! um enorme abraço!
ResponderEliminarObrigada, minha querida Lúcia. O seu olhar sobre o que escrevo é muito importante para mim.
EliminarUm grande abraço.