“---a consciência termina bem lá no alto,
na estratosfera das experiências multissensoriais
complexas e integradas,
às quais se aplica a subjectividade.”
ANTÓNIO DAMÁSIO, in “A Estranha Ordem das Coisas”
Assaltam-me
em cada momento múltiplas imagens, ligadas com frequência a pensamentos mais ou
menos erráticos e é apenas num esforço de concentração que consigo que o foco
se estreite e se fixe em determinada questão, assunto, tema, problema e gere
uma percepção mais ou menos coerente e continuada do mesmo. Ora, nessa
percepção intervêm de forma incontornável a memória, as recordações e a minha
forma única de sentir. Vejo-me então a braços com aquilo a que chamo a minha
perspectiva da vida, da minha e da dos
outros. O certo e o errado, o bem e o mal, o positivo e o negativo, o luminoso
e o obscuro dançam então a sua dança dual dentro de mim.
Alegro-me
e sofro – sobretudo sofro – ao esquecer-me de questionar os fundamentos da
minha percepção e desgasto a minha preciosa energia, sem conseguir seguir em
frente, como sempre desejo. Como pano de fundo e eternamente presente, existe
uma sensação de “ser”, um ser como ninguém mais, de forma única e original, um
forte sentimento de pertença a mim mesma, sendo “eu mesma” algo que transcende
a minha compreensão intelectual.
Este
eu que me habita de forma ininterrupta e me garante a continuidade,
apresenta-se-me imune ao tempo, espaço e circunstâncias – fui, sou, de certeza
serei até ao último sopro nesta dimensão, a mesma – imutável e sem idade.
Intriga-me
a constância e uma certa pureza desse eu, apetecia-me questionar-lhe a origem,
mas trata-se de um exercício falhado à partida, pois véus infinitos impedem o
acesso a tal mistério.
O que me resta? Prosseguir o meu caminho de forma humilde, com a força que a eliminação de verdades últimas me confere. Perceber que há tantos mundos como seres encarnados, que a minha forma de percepcionar a vida é única mas não aplicável aos outros e às suas opções e que, em consequência, não me compensa sofrer por aquilo que vejo como a sua falta de princípios, moral, pensamento elevado, et cetera. Que tudo tem sempre de ser colocado num quadro mais vasto que a minha consciência infelizmente não abrange e que o sentimento de posse é a maior das ilusões.
O que me resta? Prosseguir o meu caminho de forma humilde, com a força que a eliminação de verdades últimas me confere. Perceber que há tantos mundos como seres encarnados, que a minha forma de percepcionar a vida é única mas não aplicável aos outros e às suas opções e que, em consequência, não me compensa sofrer por aquilo que vejo como a sua falta de princípios, moral, pensamento elevado, et cetera. Que tudo tem sempre de ser colocado num quadro mais vasto que a minha consciência infelizmente não abrange e que o sentimento de posse é a maior das ilusões.
Melhor
e mais produtivo será que me ocupe com o ordenamento possível do que me habita
e com a tentativa de integrar as minhas experiências, esforço do qual surge
inevitavelmente o processo criativo.
Mariana
Inverno
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