Mudou tudo,
não sei em que momento indecifrável, mas tudo mudou e a vida continua a rolar
aparentemente sem script, possessa de um impulso viral que esvazia planos,
sonhos e desafia a lógica de qualquer projecto.
Ninguém pode
já saber o que se vai passar no momento seguinte e, no éter, esvoaçam mensagens
cifradas que, em síntese, nos procuram advertir a todo o custo de que não
contemos com nada de previsível. O nosso grande capital é aquilo que somos e aí
começa a questão fulcral.
Quem sabe afinal
o que é, quem é, para onde, conscientemente ou não, se dirige?
Se as
fundações das sociedades estremecem e
frequentemente se afundam sem apelo possível, se os ideais desapareceram
e a prática do bem e da solidariedade são actualmente “commodities” de um marketing
perverso ao serviço de políticos e de grandes grupos económicos, se a mentira,
o crime e a fraude possuem faces camaleónicas cujo manuseamento depende apenas
da qualificação de peritos amorais, se a temperatura sobe de forma implacável
em todo o planeta e cada ser, solitário e faminto de amor e conexão, tem como
recurso mais provável as redes sociais e a interacção virtual a que elas dão
acesso, se o dinheiro e o poder material a tudo presidem do alto de um trono
abjecto, cada dia mais consolidado pelos falsos tesouros temporais, o que nos
resta? Para onde virar a nossa fé e crença em algo, nem que seja apenas na
sobrevivência?
Sem querer
fazer-me passar por arauta da New Age que nunca fui, digo-me: só te tens a ti, mulher. Aguenta cada dia
como ele se vai apresentando, aquieta-te porque nenhum controle te pertence, a
não ser aquele que se vai gerando através do que tu és de forma genuína. E tu
és tudo o que sabes e sobretudo o que não sabes. Vigia o momento que passa,
encontra-lhe as mensagens ocultas, o simbolismo. Aceita com honestidade e
auto-compaixão o que ele te diz sobre ti mesma, as dicas que contem sobre a
rota que entabulaste. É bom que saibas e aceites, com humildade, que o visível
é largamente dependente do que tu não vês, não sabes, nalguma medida pressentes
mas não consegues decifrar de forma satisfatória.
És o que és e
o seu contrário, porque ninguém é completo em si mesmo se não integrar todas as
faces da vida. Enquanto não conseguires penetrar este mistério, pela dor ou
pela fé, serás ainda e sempre planta quebradiça ao vento.
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