Para Ana,
in memoriam
Remedios Varo, "Autoretrato" |
Não sabemos quem somos, ao que vimos, nem a verdade mais
recôndita daqueles que a nosso lado caminham.
São os nossos olhos que adjectivam o olhar do outro e o
encaixam algures nos conceitos de bem e de mal e, a partir de aí, tudo passa a
estar ordenado outra vez e a fazer sentido.
Conheci uma Maria das Jóias, possivelmente uma jóia ela
mesma, uma jóia que passou não detectada pelos meandros da vida. Talvez só umas
poucas almas, de coração aberto, se tenham detido uma vez ou outra, a
escutar-lhe as palavras, ora vindas puramente de outras dimensões ora tingidas
das patologias da persona.
Conheci-a por escrito e mostrou-me a face da doçura e do respeito. A ânsia de quem buscava ajuda para sofrimentos vários, incluindo a degeneração física. Buscava-a mas já não a conseguia tomar. Tudo nela galgara pontes sem retrocesso, no canal entrecruzavam-se muitas vozes e propósitos e a alma optou pela libertação.
Conheci-a por escrito e mostrou-me a face da doçura e do respeito. A ânsia de quem buscava ajuda para sofrimentos vários, incluindo a degeneração física. Buscava-a mas já não a conseguia tomar. Tudo nela galgara pontes sem retrocesso, no canal entrecruzavam-se muitas vozes e propósitos e a alma optou pela libertação.
Mulher sem rosto, Maria das Jóias, escrevo para ti hoje esta minha missiva
epitafiana, reverencio-te o talento que passou quase despercebido, agradeço-te
a passagem que me ensinou algo mais.
E olha, não estavas só, sei de uma rosa que por ti chora...
Sem comentários:
Enviar um comentário