"À
evidência do que deve ser há sobrepor-se sempre, e em última análise, aquilo que
é."
MI
“Certos medos deixam-nos inertes e
cegos para a realidade.
Tudo nos parece inevitável. E a
realidade é bem diferente: temos
o poder de encontrar estratégias, não
só de sobrevivência
mas de sucesso.”
ANA ZANATTI
Acabei “O
Sexo Inútil” de Ana Zanatti. A leitura deste longo e corajoso texto leva-me a
reflectir sobre a complexa temática da verdade absoluta e das verdades
relativas, correspondentes às diferentes interpretações da chamada realidade.
Mais do que um livro sobre os direitos dos homossexuais, esta obra representa
para mim uma chamada de atenção para a necessidade do mergulho na nossa
interioridade e do correspondente assumir das conclusões a que se chegar.
Neste imenso
palco que é o mundo e onde muito do que é importante para nós se passa nos
bastidores, ocorrem farsas e tragicomédias, quando não dramas pungentes,
interpretados pelas personagens de superfície que nos habitam, com
branqueamento, no mínimo parcial, das pulsões e dos sentimentos que, de forma
subterrânea por vezes subversiva, percorrem a nossa interioridade, sem que o
reconheçamos.
Zanatti
lembra que, na história, foram sempre os utópicos que promoveram a
transformação das ideias. Os utópicos, os sonhadores, os alucinados, os que
ousam sonhar o que “ainda não é” e confrontam o meio com a diferença à norma.
Os utópicos não se conformam com a sua impotência, nem se resignam aos
horizontes da desesperança. Expõem, pelo contrário, por palavras e pelo
comportamento, uma projecção idealizada e positiva de um mundo transformado de
acordo com o seu sentir profundo. Uma espécie de supra-norma que criam à
revelia da ordem de valores vigente e por cuja implementação lutam do modo
possível.
Fundamental
compreender o que ocorre no estádio de consciência actual da humanidade. O
pilar da educação e da estrutura social é o conhecimento (percepção da realidade tangível)
oficialmente aceite e estabelecido e que é transmitido como verdade absoluta e
final. Deste modo, ele converte-se em instrumento de domínio de uns poucos
sobre a maioria. Os poucos são os controladores desta última, facto que serve
muitos privilégios e interesses.
O carácter
dogmático desta compreensão da realidade cria no ser humano uma monstruosa obstrução à descoberta do
verdadeiro eu pois corta, à partida, as asas ao passarinho antes que ele
aprenda a voar.
O
questionamento do que nos é passado como código de valores não é permitido,
pelo que esses valores se tornam estáticos e paralisam a acção interior, sempre
precursora da comportamental. Não há
transformação sem que seja possível identificar as contradições históricas
objectivas e subjectivas de leis,
preceitos, princípios, dogmas, crenças. À evidência do que deve ser há
sobrepor-se sempre e em última análise aquilo que é. Resistir a este processo
transformativo, subjacente ao próprio fluir da vida e da evolução, continuará a
ser fonte contínua de sofrimento e dramático atraso na marcha da humanidade
terrestre.
Só na
elevação da consciência acima de mesquinhos ódios e preconceitos, passo que não
ocorre sem um profundo e empenhado trabalho pessoal na aceitação do igual e do
diferente, poderemos, creio, avançar para uma sociedade sem exploração e sem
domínios, aonde todas as percepções ou verdades individuais se poderão fundir
na bola rolante e em constante mudança que é a nossa percepção da chamada
realidade.
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