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domingo, 3 de janeiro de 2016

SOU EU A CONTADORA DA MINHA HISTÓRIA


"The victor still writes the history of the vanquished.
The slayer disfigures the face of the slain.
The weaker leaves the world, and what remains is the lie."
BERTOLT BRECHT


Penso que este cansaço, por vezes a raiar o desânimo, que me assalta quase todos os dias, advem em parte de uma consciência cada vez mais aguda do que se passa no mundo, lá longe na distância e aqui debaixo do meu nariz.
Prego, farto-me de pregar – à minha maneira, já se sabe - com textos, poesia e em tentativas sucessivas de depurar o mais possível a minha conduta e, com isso, dar força a determinados padrões comportamentais.
Mas o adormecimento do mundo, o sonambulismo da maioria, não pára de ganhar terreno, pois o grande demónio do medo estende a sua quase infalível rede de caça sobre os habitantes do Planeta Azul, causando-lhes uma espécie de paralisia mental e um estranho arrefecimento do sentir.
Torna-se difícil analisar numa crónica  o que está subjacente a este epifenómeno e não me vou aqui alargar nesse sentido. O que quero destacar é que, apesar desta fatiga sem fim, há algo dentro de mim que se reergue sempre, brande a bandeirinha da soberania pessoal e diz NÃO!
Não me conformo, não aceito que a minha mente seja tomada de assalto por uma percepção da vida que não saiu de mim, da minha mente criadora e do meu coração de ouro, não acho natural caminhar por entre mortos-vivos e cadáveres adiados, cada um correspondendo a uma programação insidosa que os torna débeis e dependentes, extremamente vulneráveis ao sistema em vigor e lhes rouba a centelha única da vida livre e em celebração.
O que se passa, irmãos? Como é que na era registada de maior acesso à informação e ao conhecimento, optamos ainda pelo adormecimento causado pelo futebol e pelas telenovelas, como é que a chama da indignação ou da solidariedade originadas pelo sofrimento alheio não dura mais que escassos instantes e, inconsequente, dá lugar a outra excitação qualquer, igualmente passageira?
Como é possível assitir aos maiores escândalos, a uma indescritível sem vergonhice de governos, instituições financeiras, organizações religiosas e outras que dominam as engrenagens culturais e da educação – que nos aprisiona os filhos desde tenra idade – e não abrir a boca?
Como é que nos quedamos passivos e complacentes ante as versões oficiais do muito que se passa entre o Céu e a Terra e nos resignamos, quando o Comboio para a Verdade tem estação personalizada à porta de cada um? O dispendioso bilhete compra-se com a determinação pessoal, a vontade própria, o despertar de um longo sono enganador e a consciência da invencibilidade do Espírito.
Não paramos para observar que os delirios da fama, do protagonismo e do poder são instrumentos anestesiantes, repetidamente propagados pelos media e que não passam de cenouras manipulatórias ante os coelhos esvaziados em que a humanidade se está a tornar.
São as classes dominantes, percentagem ínfima dos habitantes da Terra, quem escreve a nossa historiografia e determina o que nos cabe ou deixa de caber na passagem, cada vez mais armadilhada, por estas paragens. E nós não damos por nada. Não questionamos o contexto das nossas vidas, nem a nossa incapacidade para abrir o portal da criatividade, através do qual podem operar a mente crítica e a força indomável do coração.

O meu cansaço é um facto, mas ainda me lembro de quem sou e sei, cada vez melhor, ao que vim.
Sou eu a contadora oficial da minha história.


1 comentário:

  1. Nossa mente é como um grande tribunal,e quando no papel de juiz observamos nossa história, mudamos várias vezes para outros personagens e olhamo-nos ora sob o papel de acusador, ora de advogado de defesa. Mas tudo isto passa atravez dos filtros da nossa educação.A atitude conta mais que o acto. Tendemos a absolver-nos.Mau é quando adoptamos o papel de carrasco...Mas a mente mente-nos !O nosso ser é puro, luminoso e um eterno viajante.

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