Não costumo
escrever sobre temas declaradamente políticos nem pronunciar-me sobre
personalidades activas nesse mundo estranho e enganador que é hoje o da
política.
Mas como mulher minimamente consciente e atenta
ao que se passa em meu redor, não posso deixar de deitar cá para fora o meu
desgosto perante o debate de ontem, entre Maria de Belém Roseira e Marcelo
Rebelo de Sousa.
Tendo o
panorama dos debates presidenciais, salpicado de alguns personagens folclóricos,
sido até hoje um deserto de ideias e de inspiração para os eleitores – muito por
culpa dos entrevistadores que não se debruçam sobre os pontos essenciais - o de
ontem caracterizou-se, lamentavelmente, por uma queda abrupta de respeito mútuo e
de verdadeiro conteúdo.
Uma vergonha,
uma exposição da miséria humana, ainda por cima, para minha perplexidade, com
uma mulher a começar o debate ao ataque pessoal, na base de detalhes que não
interessam ao público, alguém que tem, para mim, o detestável hábito de ir
remexer nos baús bafientos do passado a ver se encontra algo com que atacar o
outro e traz consigo o mal intencionado apontamentozinho.
Baixeza, falta
de elegância pessoal, inveja, revanchismo, chispas a saltarem entre os
oponentes, tudo cada vez mais "lavatorial" como dizem os ingleses, et
cetera, et cetera.
Não estou a
defender Marcelo que, com alguma justificação, se deixou levar na onda. Ele,
que tem tido até agora uma postura de estadista, contra-atacou duramente e
quase ao mesmo nível. Se me visse naquela embrulhada, eu teria possivelmente
feito o mesmo, pois é essa a armadilha da política, das sondagens e da
percepção superficial da vida que nos caracteriza cada vez mais.
Gostaria muito
de ter uma mulher como presidente, mas não esta. Não me representa, não tem
altura (não me refiro à física, que aliás parece não lhe causar qualquer
trauma pois ”sempre tive muitos pretendentes”, afirmação que me dá outro sinal
negativo) nem a grandeza de postura e de trato requeridos para primeira figura
da nação.
Marisa Matias
talvez pudesse, com o tempo, a idade e menos esquerdismo, lá chegar. Por ora, é
muito jovem ainda, carece da imprescindível experiência que tudo perspectiva de
forma mais equilibrada e está demasiado colada a posições radicais.
Quer se
queira, quer não, Marcelo é neste momento o único verdadeiramente
presidenciável, aquele que dispõe da experiência, inteligência e elegância
pessoal, capaz de representar condignamente este país num tempo tão agitado e
incerto como aquele que vivemos. Sabe-se quem é Marcelo, conhece-se Marcelo, se
dorme pouco ou muito isso só a ele diz respeito, se por vezes muda de ponto de
vista ao longo do tempo, isso é natural, quem o não faz está parado no tempo e
não é, por conseguinte, presidenciável. Marcelo é um homem de consensos,
profundamente amado pelos seus alunos, afectivamente percepcionado por milhões
de portugueses ao longo de muitos anos. Este último facto, mérito seu, é
utilizado descaradamente contra ele, por praticamente todos os outros
candidatos, como se de oportunismo se tratasse! Parafraseando o grande Mandela,
não há que pedir desculpa aos nossos irmãos menos dotados pela bela cor dos
nossos olhos.
Espero
sinceramente que os eleitores portugueses, na conhecida baixa auto-estima que
os caracteriza, não cometam o erro de não o eleger a 24 de Janeiro. Seria mais
um desperdício irreparável, a juntar aos muitos da nossa história…
Ah, meu país
de água e dos horizontes inexplorados, nação de alma mística e dos poetas
lamentavelmente esquecidos, como te atraiçoamos cada vez mais, todos os dias...
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