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sábado, 5 de dezembro de 2015

A SILENCIOSA REVOLUÇÃO INDIVIDUAL


Só existe um bem: o conhecimento.
Só há um mal: a ignorância.
SÓCRATES

Habituámo-nos, historicamente, a que as grandes mudanças viessem de cima para baixo ou, se quiserem, de fora para dentro. Este fenómeno esteve sempre ligado a conceitos como a autoridade do estado, dos ganhadores dos grandes conflitos, das maiorias ditas democráticas ou então dos ditadores, dos exploradores, dos usurários e dos grandes manipuladores a todos os níveis e em todas as áreas da actuação humana. Espera-se sempre ou que a revolução chegue, que a iniciativa venha de alguém com poder para a fazer valer ou que, por qualquer impulso oriundo não se sabe donde, as coisas mudem como por magia ou milagre.

Esta crença, fortemente enraizada nos povos, está claramente ligada à consciência de si mesmo. Na história registada e com o suporte que os avanços científicos  nos proporcionam na descoberta do potencial humano versus regulação da existência, só hoje e de forma ainda titubeante, começa o ser humano a dar-se conta do potencial de poder que em si transporta. Os tempos vão, porém,  difíceis, confusos, as dificuldades são de toda a ordem e as tensões criadas pela luta pela sobrevivência e pelo formato incerto que os relacionamentos afectivos vêm adquirindo, distraem o ser humano daquilo que maior poder lhe pode conferir: alcançar consciência das forças exteriores a si mesmo as quais, fortemente integradas em si por uma inquestionada formatação, lhe comandam a vida e o destino, mantendo-o prisioneiro de crenças e dogmas que perpetua com a sua ignorância.

Montserrat Gudiol
Na era da rapidez, do imediatismo e da aceleração, convém continuar a lembrar que não há atalhos para a construção e para o evoluir estruturado e consistente. Ninguém pode ser aquilo que ainda não alcançou dentro de si mesmo, o mundo anda povoado de simulacros e de zombies. É fundamental que saltemos para “fora do sofá do nosso contentamento” (comprado a prestações) e façamos todos os dias um esforço de atenção ao que se passa no mundo, por meio de fontes mais seguras do que os noticiários televisivos. A educação e a cultura são instrumentos de base para o discernimento ante as ondas de contra-informação que nos entram pela vida dentro. Os ideais de solidariedade e de respeito por todas as manifestações de vida essenciais para o equilíbrio. Por outro lado, pobres dos que pensam que tudo sabem e que tudo correctamente percepcionam, só porque se sentem intuitivos ou melhores do que os outros. A chamada “New Age” é altamente responsável por todo este equívoco.
Costumo dizer que há tantos mundos quantas as percepções individuais e a falta de preparação interna para lidar com o aparente facilitismo que o grande instrumento que é a internet veio aportar à existência confundiu ainda mais as pessoas. Deixaram de estudar, de buscar, de se interrogar, pois está tudo na internet, à distância de um clique. Urgente denunciar esta ilusão e instigar nos nossos filhos a humildade e a ambição espiritual e intelectual que está na base do verdadeiro progresso, no qual a internet tem, sem dúvida, um papel instrumental a desempenhar.
Na posse de uma consciência mais alargada e profunda, instruído pela educação e por uma saudável dinâmica interior, o ser humano encontra mais facilmente a força motivacional para aplicar na sua própria vida mais daquilo em que acredita, sem se preocupar em demasia com normas ou com aquilo que a maioria faz ou pensa.
Creio firmemente que será o estímulo energético criado colectivamente por esta coerência que há-de mudar o mundo, ao abrir de uma vez por todas o portal tantas vezes anunciado pelos arautos da Nova Era.

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