Da Vinci |
Sábado de Aleluia. Mergulho na ideia de um merecido descanso. Com coisas a fazer, mas são daquelas
que gosto... escolher poemas para uma récita, escrevinhar sobre a escuta dos murmúrios interiores,
arranjar flores...coisas que relaxam e me trazem um delicioso sentir de
cumprimento.
Karin Leonard |
Floriram os narcisos,
distribuem-se amêndoas e folares. Este é o lado simpático do momento que passa.
Mas as notícias lembram que morreram quase trinta turistas alemães na Pérola do
Atlântico, aquela jovem e promissora jornalista de sorriso aberto foi ceifada
por uma bala perdida em Londonderry, o tecto de uma igreja na África do Sul
matou umas dezenas ao desabar sobre os fiéis durante um serviço religioso. A
Líbia está novamente à beira de uma guerra civil e ainda se vislumbra, no
horizonte da nossa memória, o negro dos fumos em Notre Dame. Trump continua a
reinar, impune, do alto da sua arrogante e patológica condição, o populismo avança por toda a parte. Mais todas as
coisas de que ninguém fala, ou se fala pouco, porque são histórias distantes,
gente que não conhecemos, mundos diferentes do nosso.
O ar por aqui cheira a
terra molhada, após as chuvas da noite – parece que o tempo vai melhorar substancialmente nos próximos
dias – e sinto uma necessidade enorme de me concentrar nas ditas coisas simples
da vida, no dia a dia, sem grandes filosofias. As colaboradoras do monte andam
atarefadas com a matança dos borregos e
a celebração da Páscoa e, pela primeira vez na vida, estou sozinha, na
Casa Grande, nesta quadra. Sozinha, com o meu doente.
Houve sempre um fio
condutor da continuidade na minha vida, mas no presente sinto que entrei numa
espécie de outra encarnação. Desapareceram os aliados de outrora, não há
vivalma em redor. Desdramatizo, pois há um lado bom em tudo isto: a casa
respira serena o silêncio que se instalou ou, então, é percorrida pela música
que elejo; está tudo arrumado, não tenho que trabalhar horas a fio na cozinha
para alimentar uma família que nunca mais acaba. A vida ensina-me a aceitação
das mudanças bruscas e, após o vale de lágrimas inicial, está tudo muito mais
aquietado dentro de mim.
Da Vinci |
Sábado de Aleluia! Um
bom dia para pensar nas pequenas vitórias, escrevinhar coisas pouco
importantes, arrumar gavetas, colher flores pois estamos no tempo inebriante da
primeira floração das rosas, passar um olhar brando e compassivo sobre os
pequenos dramas pessoais.
Ainda por cá ando, residente na Terra ensombrada pela humanidade a que pertenço, ainda me esperam poemas na curva dos dias. Talvez novas coisas a fazer, coisas afins ao molde que a minha alma tanto quer imprimir aos dias. Talvez, quem sabe, um, a estas alturas, improvável renascimento.
Ainda por cá ando, residente na Terra ensombrada pela humanidade a que pertenço, ainda me esperam poemas na curva dos dias. Talvez novas coisas a fazer, coisas afins ao molde que a minha alma tanto quer imprimir aos dias. Talvez, quem sabe, um, a estas alturas, improvável renascimento.
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