"O mito é o nada que é tudo."
FERNANDO PESSOA
Não me chega o mundo exterior. Nunca chegou.
Cedo compreendi o absurdo da vida meramente consciente, tangível,
regulada pela lógica e justiça do ser humano encarnado.
De facto, em particular no mundo actual, quase tudo vai deixando de
fazer sentido, se não existir uma outra dimensão de vida: a interior. Assim, vou tentando apropriar-me cada vez
mais de uma interioridade misteriosa que me habita e busco colher aí os sinais
e os símbolos com que tento entender e
melhorar a acção consciente.
Para isso, é necessário sair da moldura da formatação que me foi
aplicada desde que abri o olho.
Depois dos inevitáveis passos erróneos, desgostos e um sentido
geral de frustração perante a impossibilidade de transportar para a chamada
realidade algo de poderoso que sinto habitar-me, compreendi que a minha vida
tangível precisa urgentemente de uma ponte firme com o mundo de dentro, aquele
por onde circulam os meus sonhos e as percepções improváveis.
E o que são os sonhos, senão o suco derivado de todas as coisas que
me habitam desde tempos imemoriais (para além de e fora do próprio tempo) e me
pedem correspondência na manifestação?
Para auscultar o seu canto subliminal e integrar a força que me querem transmitir, tenho que me abrir ao simbólico e ao mito e atrever-me à desconstrução da lógica racional que impera no mundo tangível. Isto tem que ser feito passo a passo, à medida que a voz de dentro se torna mais audível e a persona está suficientemente estruturada para poder lidar, com discernimento e suficiente lucidez com os mundos de fora e de dentro.
Para auscultar o seu canto subliminal e integrar a força que me querem transmitir, tenho que me abrir ao simbólico e ao mito e atrever-me à desconstrução da lógica racional que impera no mundo tangível. Isto tem que ser feito passo a passo, à medida que a voz de dentro se torna mais audível e a persona está suficientemente estruturada para poder lidar, com discernimento e suficiente lucidez com os mundos de fora e de dentro.
A vida interior desloca forças poderosas e permite a participação no
nosso destino de variáveis que, se formos apenas racionais, permanecem bloqueadas.
Nem tudo é para entender pela mente racional, muito do que aflora à nossa
psique destina-se a ser apenas sentido, de olhos físicos fechados e com os
sentidos interiores despertos para o que é ainda desconhecido da
consciência. A atenção vigilante ao que
nos chega, a tentativa humilde e sincera de estabelecer um novo glossário de
significados a partir desse contacto são
a rota mais segura para o avanço pessoal.
Acredito cada vez mais que a vida está mapeada, que os sinais premonitórios
e as advertências nos aparecem em cada esquina mas, infelizmente, a nossa consciência
não está em geral preparada para os descodificar. Obviar a esta necessidade
implica humildade, muito trabalho pessoal e, sobretudo, aprender a funcionar
fora da caixa.
Quadro: FERNANSO MONTES
Sem comentários:
Enviar um comentário