Para o João,
Alma Forte e Clara,
companheiro
de rota na densidade terrestre,
neste
primeiro Natal sem a presença física
da
Alma com Perfume de Jasmim.
Com Amor.
Com Amor.
Mariana
Chegaram de mãos
dadas, numa manhã outonal, risos expectantes olhares esperançados plenos de
interrogações: Será aqui? Como? Quando?
Chegaram com o vento
fresco da manhã, a Alma Forte e Clara e
a Alma com Perfume de Jasmim. Acompanhados de arcos-íris incandescentes e das
memórias novas do para além da ordem estabelecida, num desafio à ilusão
organizada.
Germinava nos
corações dos seres o acto criador do lugar neste mundo, mas fora dele, aonde
cultivar a multiplicidade dos sonhos comuns, reencontrar o sentir originário e
construir pontes magnéticas em profundo
alinhamento com as energias mais subtis.
Há só uma espécie
de Amor, todas as outras são simulacros, aproximações debotadas ao sentimento
maior. Amor é aquilo que se faz sentir em cada átomo dos seres sintonizados e
rege o funcionamento da nossa vida, ao transitar em glória inalterável por
entre as dificuldades da densa existência. Comparável à luz dos sonhos, incondicional
e estranho a conveniências e à lógica conhecida, o Amor pulsa sem controle racional
e toma conta dos seres em resposta a um chamamento atávico, eco recuperado das
vozes de antanho que nos habitam mas que a consciência relegou para o mundo do
olvido.
epifania continuada
canto da alma
pontes de luz
diáfana que a carne sente
e as mãos
identificam
em pulsão conjunta
com o universo
Foram assim, de
novo companheiras, a Alma Forte e Clara e a Alma com Perfume de Jasmim. No
limiar do terreno em socalcos, discretamente integrado na floresta, as almas
beijaram-se, encorajadas pela tranquilidade do local e pela frescura que se
desprendia do solo e da densa vegetação. Pequenas sombras movimentavam-se
alegremente por entre os troncos, curiosas com a chegada destes seres.
A Alma com Perfume
de Jasmim pediu permissão para entrar e, logo ali, se rejubilaram os Espíritos
do Bosque pelos recém-chegados. Os devas receberam com carinho as sâmaras[1]
de asas ténues com que o fluxo do vento fizera acompanhar o par e ajudaram a
enterrá-las no solo, maravilhosa dádiva de boas vindas.
Os passos das almas
em sintonia subiram, um a um, todos os socalcos, sobre eles ergueram
plataformas assimétricas de convívio e silêncio e, assim, as paredes de cristal
do seu palácio foram reflectindo, pouco a pouco, dentro o que estava fora e
para fora o que estava dentro.
Na
primavera seguinte e pelo poder transmutador da Mãe-Terra, das pequenas sâmaras
brotaram as três hastes de um freixo, primeira
árvore da criação, axis do Mundo, árvore hermafrodita, ligada à protecção e à
magia, símbolo da fecundidade. Foi pelo freixo que Odin conheceu os segredos
das Runas pois a árvore cósmica recebera em tempos longevos as chaves dos
códigos secretos da ordem natural do universo.
Existe, contudo, na
densidade em que habitamos, um risco inerente a tudo quanto é criatividade,
fertilidade e vida, por via do equilíbrio que a dualidade requer.
Alma com Perfume de Jasmim |
Em volta das três
hastes do freixo construiu a Alma Forte e Clara, em silêncio, o banco de pedra
em meia lua que o sonho espiritual comum havia concebido.
Em noites de lua
cheia, torna-se visível para alguns uma luminosa coluna de luz sobre o banco de
pedra, à volta do qual dançam os devas, em sentida homenagem à eternidade do
Amor.
o vento transporta
trovas
dia e noite noite e
dia
portador de tantos sonhos
hei-de cantar este
fado
no banco da meia
lua
que sentirás meu
amor
se te disser que
sou tua
se te disser que a
memória
não é coisa de
enganar
ela conta a nossa
história
e perfuma o teu
andar
sou o ser que não
existe
o coração que não
bate
sou a voz emudecida
na noite da tua
solidão
mas eterna e
constante
habito para sempre
no teu puro coração
â volta do nosso
freixo
soam cânticos agora
dançam devas baixa a luz
meu rei de
Amor aliado
já sabes não fui
embora
pelo nosso reino
encantado
velo hoje como
outrora
Mariana
Inverno
Natal de 2016
[1] Sementes do freixo
AUDIO:https://soundcloud.com/mariana-inverno/amor-meia-luz-e-a-arvore-do-mundo
Música: JORGE QUINTELA
Música: JORGE QUINTELA
Maravilhoso !!! feliz Natal
ResponderEliminarQuem não espera encontrar tal Amor... Obrigada.
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