Há dias, em
Londres, num jantar de amigos ligados à arte – como o são, de um modo ou de
outro, quase todos os meus amigos - discutia-se com apreensão e mágoa o estado
do mundo. O Brexit, a inesperada/indesejada vitória do odiado Trump, a
incerteza do amanhã para os pobres, os não brancos, os muçulmanos, os
defensores do estado social, a cultura, a solidariedade e os valores em geral
que as pessoas de boa fé e coração aberto têm tentado, ao longo de décadas,
nutrir e preservar a todo o custo.
Muita revolta,
muito lamento. Compreensíveis, mas inúteis.
A história
acaba de virar uma página definitiva sobre o liberalismo – o termo
pós-liberalismo entrou para ficar no vocabulário dos comentadores – e de
nada serve planger os violinos da nossa desolação.
Há tempos que
se vinha adivinhando a muito necessária mudança paradigmática, mas que nós,
humanidade, não soubemos levar a cabo da forma angélica e pristina que os
arautos da New Age incansavelmente anunciaram. Se a pequena minoria dos privilegiados
deste mundo tem vindo a enriquecer cada vez mais, se a classe média do mundo
ocidental está em vias de desagregação e um milhão de almas em Mossul sobrevive
aterrorizado ao minuto vendo os entes queridos cair como moscas e sem destino
para onde ir, se o problema dos
refugiados foi miseravelmente tratado e se olhou noutra direcção a ver se
desaparecia, se não há liderança capaz no mundo, se a grande resposta que a UE
encontra para as dificuldades dos seus membros é a austeridade, se a cultura e
a educação têm sido relegados para situações cada vez mais alienadas e
alienantes, o que é que se esperava?
As contas são
simples de fazer. Cedo ou tarde, iria surgir alguém como Trump – hoje
diabolizado como um anti-Cristo por vastas faixas da população mundial mas que
não é mais do que um agente da mudança que o mundo produziu com os seus erros e
arrogância.
Há demasiado
individualismo, todos querem ser protagonistas de alguma coisa, todos querem
consumir o mais possível, ganhar fortunas e com isso impor-se aos outros, a
nossa solidariedade para com o sofrimento no mundo é da boca para fora e
meramente televisiva.
A hipocrisia é
tanta que, note-se, mesmo os conservadores legítimos (que funcionam dentro do
processo democrático) estão ou caladinhos ou a arranjar explicações mais ou menos apologéticas para o fenómeno
Trump.
Temos que nos
conformar? De modo algum!
A história já
deu muitos trambolhões e, tristemente, pouco parecemos ter aprendido com isso,
pois continuamos presos no imediatismo e na superficialidade da vida. Embora de
coração pesado, apelemos a todos que têm um mínimo de consciência, que se não
conformem com o “novo normal”, nem validem os muito prováveis aparentes sucessos
“trumpistas” no mundo da matéria.
Porque eles estão já a caminho e, num mundo sem alma como aquele em que vivemos, será com o êxito material que nos tentarão calar a boca.
Lembram-se de “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury? Tal como os seus personagens, temos memória e não vamos deixar apagar da nossa consciência os valores fundamentais da vida humana no planeta. Não poderemos permitir que nos adormeçam com a cantilena do sucesso pelo sucesso.
Porque eles estão já a caminho e, num mundo sem alma como aquele em que vivemos, será com o êxito material que nos tentarão calar a boca.
Lembram-se de “Fahrenheit 451”, de Ray Bradbury? Tal como os seus personagens, temos memória e não vamos deixar apagar da nossa consciência os valores fundamentais da vida humana no planeta. Não poderemos permitir que nos adormeçam com a cantilena do sucesso pelo sucesso.
Largas porções
da humanidade estão a entrar numa escuridão energética, para não falar dos que
já lá se encontram. É de esperar que aqueles de nós que ainda o podem fazer, se
empenhem no dia a dia, através do comportamento e opções, no preservar dos
sagrados valores da compaixão, solidariedade, dádiva e amor ao próximo, na
educação pela liberdade de espírito, na informação não manipulada, no regresso
inequívoco à proximidade com a Mãe-Natureza que tanto nos pode ensinar.
Tudo é incerto,
mas esta é a nossa vida e nela temos que investir como melhor soubermos.
Apoiados num firme enraizamento no planeta, nutramos a coragem e a lucidez,
para que o amanhã seja mais promissor que o dia de hoje.
Excelente análise da actualidade que vivenciamos...
ResponderEliminarExcelente análise da actualidade que vivenciamos...
ResponderEliminarMuito obrigada, Ana.
ResponderEliminarSó espero que nos ajude a todos a reflectir em profundidade sobre o tempo que vivemos.
Um abraço Mariana