Quase todos sentimos
que se passam coisas, ocorrem fenómenos, alcançam-se descobertas de que a
maioria não tem consciência. Mais grave, que de dentro de tudo isso que se não
sabe emana o que vai afectando estruturalmente as nossas vidas.
E nós, por aqui, à
deriva, ocupados com a sobrevivência e o mesquinho folclore de relacionamentos
doentios e vidas miseravelmente vividas (em desconexão com a nossa alma),
programadas por outrem.
Um dos assuntos que
muito me interessa estudar hoje em dia é a Inteligência Artificial e as suas
implicações no futuro. Desde meados do século passado que temos vindo a
sucumbir aos encantos e facilidades da tecnologia, como crianças a quem vão
sendo dados novos e fantásticos brinquedos. Somos hoje tão dependentes da
tecnologia que, se a electricidade por qualquer motivo falhasse
permanentemente, perderíamos aquilo que se consideram as grandes conquistas da
humanidade, pois quase ninguém, com excepção dos mais velhos, sabe fazer seja o
que for sem carregar no botão. É isto que temos deixado que nos aconteça – perdemos
acesso ao “modus faciendi” das nossas operações mais elementares, não
questionamos o que sentimos, em especial se for incomodativo, e adiamos tanto o
enfrentar as causas profundas do que nos aflige, damos ao processo tantos
analgésicos e ligações tecnológicas à distracção e ao adormecimento de sintomas
que acabamos por nos esquecer que tais causas existem e que são a raiz do nosso
descentramento e infelicidade.
A tecnologia avança impiedosamente e domina as nossas vidas. Mas como andamos adormecidos, não estudamos o que se vai sabendo, não questionamos os processos e os mecanismos por detrás de cada conquista tecnológica, não fazemos opções e aceitamos passivamente tudo o que o mercado nos vai impingindo.
Dito isto, há que
admitir, como muitas vezes tenho afirmado, que, em princípio o avanço do
processo tecnológico está aqui para ficar
e que para a preservação daquilo que percepcionamos como a nossa
soberania pessoal, impõe-se que despertemos da letargia em que nos vamos
afundando ao ceder quotidianamente àquilo que a ordem estabelecida nos vai
fornecendo.
Uma mera espreitadela
ao que se vai sabendo do avanço da inteligência artificial chega para lançar
muitos alertas vermelhos no que respeita
ao nosso futuro no planeta. Como fazer frente a esta invasão agressiva e
abrupta daquilo que até há pouco tínhamos como absolutamente privado e
impenetrável, espécie de tesouro pessoal e intransmissível?
O caminho mais seguro
é o do trabalho na nossa interioridade, muita vigilância, estudo e
questionamento, sempre em apelo ao Espírito que nos anima. O adormecimento paga-se caro numa realidade
como a actual, a fervilhar de incontáveis energias apostadas em direcções frequent emente
divergentes e opostas, não raro eivadas de intenções manipulatórias.
Por outro lado, não há
já nem tempo nem lugar para núcleos fechados a espreitar o seu umbigo
intelectual, como se a temática que mais os interessa contivesse o conhecimento
último e máximo. Cada ser tem o seu sistema de crenças mas é urgente que
adquira uma maior permeabilidade, inteligente, lúcida e crítica a tudo quanto
se vai sabendo. A rigidez e a ignorância favorecem a opressão – não pode fazer
sentido que continuemos a ser escravos,
seja qual for o formato dessa sujeição.
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