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sábado, 6 de agosto de 2016

O PASSO DOS TEMPOS

Quase todos sentimos que se passam coisas, ocorrem fenómenos, alcançam-se descobertas de que a maioria não tem consciência. Mais grave, que de dentro de tudo isso que se não sabe emana o que vai afectando estruturalmente as nossas vidas.
E nós, por aqui, à deriva, ocupados com a sobrevivência e o mesquinho folclore de relacionamentos doentios e vidas miseravelmente vividas (em desconexão com a nossa alma), programadas por outrem.

Um dos assuntos que muito me interessa estudar hoje em dia é a Inteligência Artificial e as suas implicações no futuro. Desde meados do século passado que temos vindo a sucumbir aos encantos e facilidades da tecnologia, como crianças a quem vão sendo dados novos e fantásticos brinquedos. Somos hoje tão dependentes da tecnologia que, se a electricidade por qualquer motivo falhasse permanentemente, perderíamos aquilo que se consideram as grandes conquistas da humanidade, pois quase ninguém, com excepção dos mais velhos, sabe fazer seja o que for sem carregar no botão. É isto que temos deixado que nos aconteça – perdemos acesso ao “modus faciendi” das nossas operações mais elementares, não questionamos o que sentimos, em especial se for incomodativo, e adiamos tanto o enfrentar as causas profundas do que nos aflige, damos ao processo tantos analgésicos e ligações tecnológicas à distracção e ao adormecimento de sintomas que acabamos por nos esquecer que tais causas existem e que são a raiz do nosso descentramento e infelicidade.











A tecnologia avança impiedosamente e domina as nossas vidas. Mas como andamos adormecidos, não estudamos o que se vai sabendo, não questionamos os  processos e os mecanismos por detrás de cada conquista tecnológica, não fazemos opções e aceitamos passivamente tudo o que o mercado nos vai impingindo.

Dito isto, há que admitir, como muitas vezes tenho afirmado, que, em princípio o avanço do processo tecnológico está aqui para ficar  e que para a preservação daquilo que percepcionamos como a nossa soberania pessoal, impõe-se que despertemos da letargia em que nos vamos afundando ao ceder quotidianamente àquilo que a ordem estabelecida nos vai fornecendo.
Uma mera espreitadela ao que se vai sabendo do avanço da inteligência artificial chega para lançar muitos alertas vermelhos no que respeita  ao nosso futuro no planeta. Como fazer frente a esta invasão agressiva e abrupta daquilo que até há pouco tínhamos como absolutamente privado e impenetrável, espécie de tesouro pessoal e intransmissível?

O caminho mais seguro é o do trabalho na nossa interioridade, muita vigilância, estudo e questionamento, sempre em apelo ao Espírito que nos anima.  O adormecimento paga-se caro numa realidade como a actual, a fervilhar de incontáveis energias apostadas em direcções frequentemente divergentes e opostas, não raro eivadas de intenções manipulatórias.
Por outro lado, não há já nem tempo nem lugar para núcleos fechados a espreitar o seu umbigo intelectual, como se a temática que mais os interessa contivesse o conhecimento último e máximo. Cada ser tem o seu sistema de crenças mas é urgente que adquira uma maior permeabilidade, inteligente, lúcida e crítica a tudo quanto se vai sabendo. A rigidez e a ignorância favorecem a opressão – não pode fazer sentido que continuemos a  ser escravos, seja qual for o formato dessa sujeição.

 

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