Este
é o tempo das grandes incoerências e irresponsabilidades, um tempo em que a
consciência colectiva tinha obrigação de já se ter expandido para além dos
limites sufocantes que teimosamente ostenta. Dispomos de mais informação que
nunca e jamais o ser humano teve ao seu dispor tantos dados sobre si mesmo e a
sua vida e a dos seus companheiros de rota – animais e plantas, entre outros –
durante a residência na Terra.
Acabo
de ter conhecimento que uma escola privada do Alentejo, religiosa e com raízes
profundas em Portugal, com muitas centenas de alunos, realiza hoje domingo, 1 de
Novembro de 2015, uma “tourada de solidariedade”, na qual participam “6
imponentes toiros”!
Em
desespero de causa, escrevo estas linhas, que em nada irão já impedir a
realização deste acto bárbaro, mas que proponho sirvam de pretexto para uma
reflexão mais alargada e honesta sobre as implicações duma tal iniciativa, por
parte da referida escola e das suas grandes responsabilidades na formação das
crianças que a frequentam, por parte dos pais que deveriam ter levantado a sua
voz de oposição a este exercício e também para a sociedade em geral.
O tempo é, no mínimo de incoerência, pois
como é possível ligar levianamente o conceito de tourada com o de solidariedade?!
Até aonde chega a ignorância e a irresponsabilidade dos educadores deste país,
ao sujeitarem as nossas crianças a um binómio de conjugação impossível,
maquiavélico e ultrajante?!
A União Europeia acaba de votar a supressão
do financiamento das touradas pois a pressão das vozes que por todo o lado se
erguem contra a ilegitimidade das touradas tornou-se inaguentável, mesmo para
quem faz por norma ouvidos moucos a estas causas.
Só para refrescar a memória, convém lembrar
os dolorosos contornos do espectáculo bárbaro e primitivo, no pior sentido, que
são as touradas.
“(O touro), por vezes é sujeito, sem anestesia, ao
corte da ponta dos cornos em zona viva, enervada e dolorosa, para que se iniba
de marrar com violência.
Por vezes é-lhe aplicada pomada ou pó nos olhos para
provocar irritação nesses órgãos e lhe diminuir concentração e visão.
Muitas vezes é agredido antes da tourada com choques
por aguilhão eléctrico nos testículos, para o fazer irromper na arena
aparentando ser braviamente perigoso, mas, na realidade, saltando de susto e de
dor.
A seguir, na lide, é provocado, enfurecido, ferido por
farpas, magoado, cansado até ao esgotamento e, em Barrancos de Portugal, até é
morto por estocada (ou várias estocadas até acertar).”
Os touros, como todos os animais, acompanham-nos nesta
experiência à superfície do planeta e, como manifestação de vida, devem merecer
todo o nosso respeito e acompanhamento solidário. O seu sofrimento, deliberadamente imposto
para nosso “entretenimento (?!), tem de ser urgentemente interditado de forma
global à escala planetária. A necessidade imperiosa de tal medida tem de ser
ensinada às crianças nas escolas, em casa, nos media e por todos os meios à
nossa disposição. Mas, sobretudo, diante do que ainda persista dessa prática
miserável que são as touradas, abstenhamo-nos de a ligar ao que de melhor
existe na existência humana: a solidariedade da vida para com a vida.
As nossas crianças, o mundo de amanhã, merecem esse
esforço.
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