Número total de visualizações de páginas

sábado, 14 de novembro de 2015

AVANÇOS E RETROCESSOS DE UM MUNDO EM TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

 No 5oº andar de um arranha-céus em Miami, neste abrasador dia de Novembro (mais de 30ºC), assisto a palestras e debates sobre a revolução tecnológica que está a decorrer no mundo. A audiência, informal e com muita gente nova, segue atenta e entusiasta o que os oradores dizem. Tudo moderado por um grande meio internacional.
Hyperloop
Carros autónomos, hyperloop[i], inteligência artificial e a realidade virtual de forma generalizada, robótica fornecedora de companheiros virtuais e a internet em acelerada expansão, são tudo assuntos comuns e tratados com naturalidade aqui. A maior parte desta gente parece-me bem intencionada e a trabalhar arduamente na evolução da tecnologia que, acreditam, há-de melhorar significativamente a qualidade de vida da humanidade terrestre à superfície do planeta.
Os mais novos constituem a maioria mas a febre de avançar, fluir, acompanhar e ser parte da inovação tecnológica parece ser um denominador comum.
Sentada neste 50ºandar, faço várias coisas ao mesmo tempo: corrijo pela internet a última versão da minha antologia de poesia a sair em breve, envio um SMS reconfortante ao meu marido doente no outro lado do Atlântico e sigo o que se passa nesta sala onde se discutem as virtudes da transformação digital.  Subjacente a tudo isto, palpita porém em mim a grande questão: para onde nos dirigimos, sobretudo de que forma e com que cuidados nos dirigimos para este futuro tecnológico que nos bate à porta todos os dias? Em que espécie de seres humanos nos estamos a transformar e quão conscientes estamos desse facto? De que forma exercemos livremente a nossa vontade no processo?

Neste ambiente, oiço falar com ligeireza de biliões e triliões de dólares, ganhos num ápice, através da criação de “maquinetas” ou componentes inteligentes. Qualquer startup faz um milhão ou dois de dólares, enquanto o diabo esfrega um olho. E quem o diz é muitas vezes gente jovem, informal, com ar descontraído, desportivo, por vezes boçal. A capacidade de articulação do pensamento noutra coisa que não estes assuntos deve ser muito reduzida pois o que dizem soa-me idiomaticamente pobre e a coisa muitas vezes repetida. Os mais velhos que estão tomados da mesma febre aparecem-me incongruentes, com algo de forjado no discurso optimista.
Preocupa-me este estado de coisas. Há muito descuido, partes essenciais no ser humano que estão a ser esquecidas ou relegadas para último plano. Se é verdade que as novas gerações perderam rigidez – e esse é um ganho incontestável – foram também perdidos outros empenhos, essenciais para a construção de um ser humano enriquecido e em verdadeira evolução. A busca da excelência em todas as coisas parece não ter mais significado.
Sucesso está associado ou ao futebol ou aos feitos da tecnologia. O dinheiro escoa livremente por estes trilhos, mas não serve exactamente muito do que deveria ser o nosso propósito maior. Esquecidos são os artistas, os poetas, os escritores e os trabalhadores das grandes causas da humanidade. Marvin Minsky[ii] escreveu algo como, Se em dúvida, perguntai aos poetas. Pelo caminho que as coisas levam, não me parece que isso seja passível de acontecer num futuro próximo.

Muitas questões, poucas respostas. O que sei, para além de qualquer dúvida, é que cada um deve fazer o que consegue, o que está ao seu alcance, pela justa melhoria da vida na Terra. A mim, além da luta pela sobrevivência (ainda não encontrei nenhum filão de ouro, tecnológico ou outro), cabe-me amar os meus e escrever sobre aquilo em que acredito: incitar o ser humano a despertar, a tornar-se consciente da sua soberania pessoal, a questionar o que lhe (im)põem como factos ou verdades acabadas.
A tecnologia, cujo avanço admiro e sigo com enorme curiosidade, é um mero instrumento que em muito pode servir o nosso bem estar e facilitar o nosso progresso, desde que permaneça no lugar que lhe compete: o de servir com eficiência uma humanidade cada vez mais livre e consciente.




[i]hyperloop é um sistema de transporte de alta velocidade conceptual (autoria  de Elon Musk) que incorpora tubos de pressão reduzida nos quais cápsulas viajam numa almofada de ar, impulsionada por motores de indução linear e compressores de ar. Estão a ser actualmente  desenvolvidos projectos para pistas de testes e cápsulas, com a construção de um protótipo em escala total, prevista para 2016.
Análises preliminares indicaram que, utilizando tal meio de transporte, a velocidade de deslocação  seria de entre 962 e 1220km/hora e que uma viagem entre São Francisco e Los Angeles duraria apenas 35 minutos.
[ii] Marvin Minsky é um cientista americano, especializado em estudos da inteligência artificial, cofundador do Labortatório de Inteligência Artificial do MIT.


Sem comentários:

Enviar um comentário